Rock é Rock Mesmo

Apoteose classemediana em euforia: vai começar a festa dos modernos

Com escalação que deixa a desejar TIM Festival inaugura nova fase no Rio de Janeiro e ataca também em outras cidades.

Meus amigos, o que é a modernidade. E o que é o passar do tempo. Parece que foi ontem que escrevi uma dessas cento e oitenta e poucas colunas falando da algazarra que os modernos iam fazer no Tim Festival, então confundido com o Free Jazz, nome pelo qual o mesmo festival era chamado quando o patrocinador era a marca de cigarros. Era o ano de 2003 e agora só se fala em TIM – telefônicas deitam e rolam num mundo pós-FHC. Parece que foi ontem e tenho saudades de tudo, menos, é claro, de um governo tucano. Bye, bye PSDB.

Falo da modernidade relacionada ao TIM Festival e por vezes não sou compreendido. Então explico. O festival transborda a tal modernidade já em que o faz. É verdade que começou, nos tempos do Free Jazz (como o nome já dizia), voltado para o jazz, e ainda mantém o Palco Club exclusivo para o gênero. Com o tempo, entretanto, acabou virando-se para a tal da “música de vanguarda” que, dizem, renova o rock. Não tenho certeza, mas acredito que o TIM Festival é o único festival de música do mundo em que um dos que ajudam a selecionar o elenco a cada ano é um antropólogo. Daí as patacoadas clássicas a cada edição. Digo isso até um pouco constrangido, depois de ter curtido, admito, várias atrações legais, sobretudo no ano passado – shows históricos de Wilco, Elvis Costello e Television – mas não dá pra rir de nomes como, por exemplo, o Daft Punk, responsável por boa parte do lixo eletrônico produzido nos anos 90, e atualmente em franca decadência. Depois são esses, como o meu amigo Moderninho de Plantão, que reclamam da vinda do que chamam de “dinossauros” ao Brasil.

O amigo mais observador deve estar se perguntando o porquê de eu falar isso de uma atração cuja noite já tem, antecipadamente, os ingressos esgotados. No que eu retruco: não é muito difícil, através de uma mídia avassaladora, encher um lugar de capacidade para três, quatro mil pessoas. E, a bem da verdade, de toda a empulhação eletrônica que povoou os ecléticos anos 90, quase todas essas estações repetidoras (Moby, Chemical Brothers, Prodigy) já estiveram no Brasil, e com sucesso de público. Mas eu falava do elenco de atrações desse ano, e sou obrigado a citar com profundo lamentar o nome Bonde do Rolê, algo bizarro e de projeção inexplicável, e outros inexpressivos como Thievery Corporation, Black Dice, The Bad Plus e assim por diante. De interessante mesmo só Patti Smtith (se não ficar enchendo o saco tirando onda de poetisa sem livro publicado), a incógnita Yeah Yeah Yeahs, os ótimos Beastie Boys (se não ficarem mandando rap, hip hop e beat box o tempo todo) e, quem sabe, o TV On The Radio, que, honra seja feita, fui um dos primeiros a publicar no Brasil, quando era editor da Dynamite, numa matéria de Gisele Brierley, em abril de 2005.

Falo, falo, explico, explico, mas no fundo me sinto um tolo. Porque no frigir dos ovos o que menos interessa para um evento como o TIM Festival é o elenco de atrações. Importa, isto, sim, a mídia envolvida, a tal da “exposição da marca” (coisa que gente de grande empresa que se acha do ramo não entende, imagine eu), e muita, muita badalação em torno do nada. Porque, como os espaços para os shows são pequenos, em geral com grande folga na capacidade – o medo de acontecer um corre-corre é grande – e os ingressos caros, a inefável classe média tem que se contentar em circular pelo “off jazz”, como carinhosamente se denomina o lugar onde, sem ver os shows, qualquer um pode circular só para se sentir “in”. Ao menos foi assim até a edição do ano passado. Como este ano o festival sai do MAM, que recentemente foi loteado por outra operadora de telefones, a Vivo, e vai para a Marina da Glória, ali do lado, talvez aconteçam mudanças no leiaute – no que sinceramente eu não acredito.

É aí, precisamente, que repousa a tal da modernidade perseguida por todos, e pela qual, embora não compreenda, sou um verdadeiro obcecado. Como entender, por exemplo, um festival em que a grande atração, repito, é a badalação, e não as atrações elencadas? Como definir uma flutuante intenção classemediana de circular consumindo descartáveis a custos inacessíveis só para satisfazer uma necessidade aparentemente social? Ou seria emocional? Como perceber interessante um local dentro de um festival onde não se apresentam as atrações principais, repleto de gente? E, por último, mas não em último, como pode um dos principais eventos de música do País ter o comando de, entre outros, um antropólogo? Daí é que advém minha obsessão pela modernidade, pois só sendo moderno mesmo para entender o que se passa.

O que está claro é que a produção do festival percebeu que os preços praticados (que continuam altos, em sua maioria) não podiam continuar. Nesse ano, tem ingresso até de R$ 20 – apesar do show não valer um centavo sequer. Outro ponto notável é a fixação do bojo do festival no Rio de Janeiro, cidade com a vocação para esse tipo de evento, ficando a periferia cultural com edições complementares, obviamente escolhidas de acordo com o interesse da operadora de telefonia.

E como se não houvesse mais nada para se falar, ops, Caetano no Tim Festival? Como assim? É isso mesmo, um dos artistas mais respeitados da música brasileira vai tocar por último no Palco Lab, na madrugada de domingo para segunda. Segundo consta, ele vai tocar todas as músicas de “Cê”, disco que tenta pegar carona o novo rock, assim como “Velô”, de 1984, fez com o rock dos anos 80. Era o desfecho que um festival para modernos precisava. Podem esperar que vai estar todo mundo lá. Vocês sabem quem.

Nem O Homem Baile vai perder

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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