Rock é Rock Mesmo

Do jeito que está David Lee Roth nunca mais voltará para o Van Halen

Performance arrastada e capenga do vocalista no Live’N’Louder praticamente descarta reingresso à banda que o consagrou.

Meus amigos, é sabido que assim como o pra sempre sempre acaba, o nunca não existe. Mas no que depender daquilo que eu vi na Arena Skol Anhembi no último sábado, durante o Live’N’Louder, sentencio: nunca mais David Lee Roth volta a tocar no Van Halen. A não ser em eventos meramente de exibição ou promocionais, e olhe lá. Nada como ver de perto o que se sucede para entender um pouco as coisas. Não adianta ler na revistas, não.

O leitor de longa data já deve estar esboçando uma certa cobrança para comigo. Não é de hoje que digo, categoricamente, que é só uma peça importante de uma banda, um integrante de maior expressão, deixá-la, que inicia, de imediato, a contagem regressiva para que ele retorne. E repito. No rock nada tem fim, uma banda acaba hoje, e, de imediato, já começa a espera para a sua volta, o que cedo ou tarde acontecerá. É batata. Pensando assim, e por isso mesmo, não entendia quando lia nos jornais que Eddie Van Halen e David não conseguiam se acertar para volta da banda com a formação clássica, com eles dois mais o baixista Michael Anthony e o batera Alex Van Halen, irmão de Eddie. Não que a fase com Sammy Hagar fosse ruim, muito ao contrário, mas tudo sempre foi melhor com David na parada.

Quando Eddie foi taxado de burro pela imprensa em todo o mundo por ter dispensado Hagar para ficar com David, e ao brigar com ele ficou sem os dois e acabou com o inexpressivo Gary Cherone (Extreme), aí o bicho pegou pra valer. Isso foi há quase dez anos, e depois da lambança, Eddie descobriu que tinha câncer (hoje totalmente sob controle) e saiu de cena até gravar três músicas novas (muito boas, diga-se de passagem) com Sammy Hagar, que estão na coletânea “The Best Of Both Words”, junto com outras 33, cobrindo as fases Roth/Hagar. Isso foi em 2004, e de lá para cá nada mais se falou de novo. Exceto da parte de David Lee Roth. O andrógino vocalista não perde uma chance de dizer que tem músicas prontas e que voltar a tocar com o Van Halen é só uma questão de tempo. Disse isso a torto e a direito, por exemplo, nas entrevistas aos veículos brasileiros que antecederam o show do Live’N’Louder.

Se para mim isso é uma regra, nesse caso sempre me pareceu óbvio, tanto a volta de Hagar como a de Roth. Lia as revistas, os jornais e não compreendia como podia Eddie Van Halen ser tão cabeça dura em não trazer de volta o vocalista espetacular – em vários sentidos – que fez história em sua banda. Pois foi no último sábado que, como dizem por aí, a ficha caiu – alguém ainda usa ficha de chumbo pra telefonar? E foi durante o show do ex-loirão bonitão e atual clone de Rubens Barrichelo, de fachada e de velocidade. Acreditem se quiser, mas aquele cabra malhado, de longas madeixas que ensaiava saltos de karatê nos palcos e que no clássico videoclipe de “Jump” fazia o que a música mandava, hoje não passa de um senhor comedido, lento, que sequer se move no palco a não ser andando lentamente, com um sorriso amarelo que parece se desculpar a cada segundo. Esse David Lee Roth que vimos no show de São Paulo certamente jamais voltará ao Van Halen. Eddie foi promovido de burro a sábio em menos de quinze minutos de show.

Dirão os mais apegados à banda e outros com queda para o ato humanitário que estou sendo rigoroso demais, que tenho que respeitar a história de David Lee Roth e do Van Halen, e que é evidente que, aos 51, ele jamais poderia esbanjar uma saúde e um preparo físico de vinte, trinta anos atrás. No que eu retruco: isso é óbvio. Mas vejamos o caso de outros que passam pela mesma situação. Ozzy Osbourne, por exemplo, aos 46, fez uma apresentação inapelável aqui mesmo, em 1995, no Metropolitan. David Coverdale, no ano passado, com 54, nada ficou a dever nos shows do Whitesnake que abriram para o Judas Priest no ano passado. E Rob Halford, por sua vez, com a mesma idade, nem se fala. Foi muito ruim ver David no palco paradão e com um braço de vovó, ele que, além da bela e marcante voz, sempre teve como uma de suas características justamente a forma física e a movimentação no palco. Parece ele próprio, aí, sim, desrespeitar sua trajetória.

Daí então a lógica de que é por isso mesmo que Eddie Van Halen não readmite logo o vocalista pidão. Para mim o guitarrista tem noção de tudo o que se passa, e não quer queimar o filme com David de volta, ainda mais depois da triste experiência com Cherone. Na mesma semana circulou a notícia de que Eddie também teria se desentendido com Michael Anthony, o que estaria sacramentando de vez o fim, e em definitivo, do Van Halen. O diabo é que todo mundo sabe – incluindo aí os promotores de shows e donos de gravadoras – que qualquer turnê com a formação clássica renderia muitos milhões mundo afora, e, é claro, a oportunidade para muita gente que não tem idade para ter visto o grupo em sua melhor fase o faça agora. Mas com David nessas condições, é preferível que isso não volte a acontecer. Mais que uma constatação, escrevo isso como um desejo.

Digo isso, no entanto, usando a expressão “nessas condições”. Porque insisto em acreditar que é possível, sim, recuperar a forma do vocalista. Se até Ozzy – de novo – deixou de ser aquela franga gorda do Rock In Rio de 1985 para dez anos depois arrasar no show do Metropolitan, por que David não pode tomar um banho de academia e ficar minimante em condições de fazer uma turnê com o Van Halen, sem esboçar saltos de karatê dado a impressão de que vai desaba a qualquer instante? Se quiser voltar a tocar com o Van Halen, David não precisa ser tão falastrão, basta recuperar minimamente a forma, mesmo considerando seus 51 aninhos de pura travessura.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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