Fazendo História

Por que não agoniza nem morre

Andreas Kisser diz que o metal é o gênero que mais se abre a outros estilos; Kiko Loureiro credita renovação à defesa da essência. Box publicado na matéria de capa da Laboratório Pop número 6, de setembro de 2005. Fotos: Divulgação.

Andreas Kisser

Andreas Kisser

A defesa do metal é incendiária. Basta passa algumas horas nos corredores da Galeria do Rock, em São Paulo, onde mais de 200 lojas atraem adolescentes ávidos especialmente por heavy metal, e verificar que há um universo paralelo além do mainstream do rock. “O metal é o estilo que mais abre as portas para estilos novos. Existem várias vertentes que englobam outras e eu não vejo isso em outros estilos musicais. Cresce tanto porque é uma música que está sempre se renovando, é o estilo mais aberto e no qual é possível fazer coisas novas. Há a idéia de que é radical, mas a antena do povo do metal tá sempre ligada com tudo o que tá acontecendo”, começa a defesa Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

Kiko Loureiro

Kiko Loureiro

Não é esse, entretanto, o que diz a imprensa especializada. Desde que o Black Sabbath, um dos grupos fundadores do metal, surgiu no final dos anos 60, o gênero sempre foi taxado de primitivo e reacionário. “O heavy metal tem uma estrutura básica de guitarra, distorção, baixo, bateria e vocal, e essa estrutura pode ser aplicada e adaptada a quase qualquer circunstância. Música clássica, regional, mais veloz, balada, o que você imaginar. E por isso o público se renova e cresce com a readaptação desses elementos, sem perder as características básicas”, analisa o guitarrista do Angra, Kiko Loureiro. Ele próprio, no Angra, toca músicas inspiradas em temas de origem na música brasileira, sem perder uma grama de peso, além de ter usado referências do tipo no primeiro álbum solo, “No Gravity”, recém lançado.

Max Kolesne

Max Kolesne

“O metal é uma espécie de religião, uma coisa que contagia as pessoas e quem entra nesse mundo acaba pirando mesmo”, avalia Max Kolesne, baterista do Krisiun, no dia em que embarcaria para os Estados Unidos e Europa, onde o Krisiun deve passar todo o verão tocando nos grandes festivais. Vitão Bonesso, produtor e apresentador do Backstage, programa especializado em heavy metal de São Paulo, e um dos que estão no ar há mais tempo, vê uma certa cumplicidade entre o gênero e seus fãs: “É uma troca de fidelidade, o estilo também é fiel aos seus fãs. No heavy metal uma banda pode até ter lançado um álbum ruim, mas dentro do estilo, o que não significa que ela esteja abandonando o barco”. Kiko Loureiro vai mais longe, e acredita que essa fidelidade pode estreitar a relação entre músicos e fãs: “Os fãs de metal tornam-se músicos, mantendo o legado vivo. Há um orgulho de pertencer a esse estilo de vida, e essa comunidade não morre”.

A pluralidade de referências e elementos incorporados ao metal é realmente grande, e o resultado é a criação de subgêneros os mais diversos, tantos que, às vezes, fica difícil até de distinguir uns dos outros. Ou, ainda, arriscar o que pode acontecer daqui pra frente. Vitão Bonesso crê no revival do thrash metal; Kiko verifica a ascensão do gothic metal e aposta na fusão de vários subgêneros do metal; Kolesne, claro, acredita no metal extremo; e Andreas Kisser joga as fichas numa volta às raízes: “Já rolou tanta mistura que é hora de segurar um pouco, dar uma digerida nisso, escutar realmente o que aconteceu nos últimos anos e fazer uma coisa um pouco mais tradicional”.

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