Mesmo encurralado por sua trajetória, o Sepultura parece ter encontrado uma forma de voltar a agredir como nos bons tempos. Não que “Dante XXI” seja uma maravilha da música pesada, mas supera com larga vantagem seu antecessor, “Roorback”, mais seco e direto, e ainda “Against” e Nation”, que se mostravam perdidos após a saída de Max Cavalera. Trata-se, isto sim, de um disco tenso, não do ponto de vista da relação entre os integrantes, que pode ter resultado na saída de Iggor logo após o lançamento, mas da estrutura das músicas. Reunidas, elas formam o conceito inspirado na “Divina Comédia”, de Dante Alighieri, anunciado no título. Acordes com afinação mais baixa típicos do nu-metal voltam a aparecer em “False”, que lembra “Breed Apart”, do clássico “Roots”, e metais reforçam a tensão emblematizada em “Dark Wood of Error” e em todo o disco. O Sepultura ostenta uma música que lhe é bem própria, ao mesmo tempo em que flerta com o metal americano de vanguarda de bandas como Killswitch Engage. Remete ao thrash de raiz, também, nas passagens mais lentas, só que com uma pegada mais pesada do que a encontrada nas bandas da época ou nas recentes que seguem a mesma cartilha – caso de “Convicted In Life”. Talvez a produção da própria banda, junto de André Moraes (acostumado a trilhas para cinema) tenha contribuído. Deve ser de Morares a série de pequenos efeitos inspirados em didjeridus, os sopros e outros barulhinhos salientes em todo o disco que reforçam uma visão mais ampla do metal do Sepultura. Mesmo depois de alegar estar de saco cheio de tocar, Iggor manteve a pegada e junto com o subestimado Paulo Xisto forma uma base bem consistente. Mas é Andreas quem dá a linha mestra à banda, seja em solos ou fazendo, em disco, uma das melhores guitarras base do thrash – isso sem falar nas peculiares passagens acústicas. Se o Soulfy de Max deu uma piscadela para o passado no último disco, com “Dante XXI” o Sepultura reafirma a aposta num caminho próprio e diferenciado.

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