Rock é Rock Mesmo

Rock, contradição é tua essência

Previsões previsíveis, discaços, shows internacionais e o inefável fantasma de Patton.

Meus amigos, não duvidem: o rock é tudo. Às vezes parece uma pessoa física que completou 50 anos e que leva quase metade disso para se reciclar. Noutras, uma pessoa jurídica que encampa, promove ou encerra uma banda sem a menor cerimônia. É como se o rock, na primeira opção, andasse num terno alinhado sob um sol de 40 graus, e, na segunda, fosse uma instituição sediada num edifício semelhante ao do imponente BNDES. Mas essa é a palavra. Rock é, sim, uma instituição. Que pertence a todos e, ao mesmo tempo, não é de ninguém. Volátil, sólido, porém inatingível, embora palpável. Rock, contradição é tua essência.

Digo isso depois de, com um século de atraso, me reencontrar com o Maluco da Praça. Há tempos não falava com a inefável figura, e, por isso, mesmo, não o citava aqui nesta alcova entrincheirada. O leitor de longa data deve e lembrar daquele que sabe de tudo, e não se furta em indicar os caminhos para qualquer um que dele se aproxime, exceto, evidentemente, ele próprio. Mesmo porque conselhos nunca servem para quem os dá, só para que recebe. Ao menos essa parece ser a lógica do Maluco da Praça.

Dizia-me o premonitório indivíduo que este ano o Tim Festival teria um elenco chinfrim. Seria o máximo se ele tivesse me dito isso antes de a relação dos artistas programados ter sido anunciada, mas, em contrapartida, tratou ele de me culpar pelo sumiço ao qual me atribuiu responsabilidade. Como se não bastasse, voltou a despejar sua sabedoria no que tange aos shows do Slayer, que volta ao Rio após 12 anos, e New Order, que não vem pra cá desde 88, se a memória não me falha. Apontou os dois como sérios candidatos a show do ano, enquanto zombou da segunda vinda do Franz Ferdinand em sete meses. O sábio me parecia meio abusado, como se bebesse do próprio veneno que do canto da boca lhe escorria.

Disse-me o referido profeta que, de outro lado, o Charlatans não quis vir ao Rio. Datas havia, locais interessados em trazer, também. Público, estima-se, sim, mas a própria banda, vejam vocês, se recusou a tocar na Cidade Maravilhosa. Como podem suecos tomar uma decisão dessas? É de se estranhar, não fosse a revelação feita pelo Maluco da Praça, e eu jamais acreditaria nisso. O inexorável guru, ainda, disse temer que, caso não haja uma satisfatória venda de ingressos antecipada para o show do New Order, ele pode até ser cancelado. Até parece que o público carioca tem a prática de comprar ingressos com antecedência, sobretudo caros como os de shows internacionais. Cada uma. (Em todo caso, tá dado o aviso).

Passou, passou, e pouca gente registrou que a volta do Circo Voador completou dois anos. Sabe-se que o Circo sempre cumpriu vários papéis. Um deles é o de abrigar shows internacionais de porte médio que, antes, não tinham morada no Rio. Só nesse final de semana, por exemplo, tocaram lá Tortoise, num dia, e CocoRosie (quem?), no outro. Já passaram pelo Circo lá Franz Ferdinand, The Sisters Of Mercy, Morbid Angel, Exodus e tantos outros grupos que certamente não tocariam por aqui. Já num outro e fundamental papel para o rock carioca, o Circo tem vacilado. Me refiro ao espaço para bandas novas, a preço acessível. Já tive um rosário de explicações de todo mundo lá da produção, mas não dá pra entender não ter um dia sequer – numa quinta ou domingo de tarde da vida – um show só com grupos de pouca expressão, com ingresso a R$ 5. Poderiam até fazer aquelas promoções beneficentes com a entrega de alimento ou roupas. Mas não. Qualquer show custa, no mínimo, R$ 34 ou R$ 17 (meia entrada). Ok, alegam que o custo de um show no Circo novo é muito alto, mas e o patrocínio da Tim? E a bebida oferecida pela Brahma, vendia a R$ 4 o copo? Ë uma coisa a se pensar, porque, do jeito que tá, não dá pra continuar.

Portas fechadas de um lado, abertas do outro. Atravessando a rua, no Teatro Odisséia, o rock é muito bem-vindo. Nunca aos sábados, onde a casa enche pra valer com todo o tipo de coisa, mas em qualquer outro dia. Não dá nem pra relacionar a quantidade de bandas que já tocou lá. Só a revista Laboratório Pop tem uma data fixa por semana, e como disse na semana passada, só muda o nome do evento e enche a casa com o novo rock, do Rio e do Brasil. Ok, é uma casa menor, deve ter custos fixos menores, mas se ela pode, por que o Circo não? É preciso descobrir o que acontece sob a lona voadora.

E o rock? E o rock? Pergunta o cismado leitor de longa data. No que eu respondo: vai muito bem, obrigado. Ou, por outra, continua muito bem, isso sim. Depois de um discaço do Muse, agora é a vez de agüentar a porrada seca do Slayer, num disco prometido há milênios, ou tentar entender a loucura desmedida de um Mars Volta da vida. O que, de quebra, me traz o fantasma de Patton a me perturbar a cabeça outra vez. Pois se até a Cléo Pires enviuvou-se do cara, só me resta parar por aqui e partir para outra. Entrou setembro e Beto Guedes pode entrar numa de dar o ar da graça. Ou Tim Maia reaparecer na primavera. Setembro negro, isso sim.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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