Rock é Rock Mesmo

O rock brasileiro passeia pelo Rio

Em meio a tantos shows internacionais, as novas bandas do rock carioca estampam os grandes jornais e recebem grupos de outros estados.

Meus amigos, é tanta coisa no menu que eu não sei o que comer. Ou, por outra, quero é comer tudo, falar de tudo, fazer tudo. Tudo ao mesmo tempo agora, como diz o anedotário do rock brasileiro, se é que vocês me entendem. Vejam vocês que começo a escrever estas linhas virtuais num sábado, para publicá-las com um atraso de, no mínimo, dois dias. Mas não perco a pose e mantenho a data certa. Não tem jeito.

Pois justo na quinta, vejam vocês, saiu a programação oficial do Tim Festival, que neste ano, por incrível que pareça, vai acontecer majoritariamente no Rio (em um novo local, na Marina da Glória) e com shows avulsos em São Paulo, Curitiba e Vitória, em outubro. E nada de Radiohead. Nem de Thom Yorke solo. Os caras da produção fracassaram de novo. Entre o que interessa aos modernos, vem Daft Punk (eu tô fora), no Tim Stage, dia 27; Patti Smith e Yeah Yeah Yeahs (eu tô dentro) no Tim Stage, dia 28; TV On The Radio no mesmo dia 28, no Tim Lab (tô dentro); e Beastie Boys (dentríssimo) no Tim Stage, dia 29. Só isso. Digo “só” porque, ou no ano passado tivemos uma edição de gala, ou nesse a coisa tá braba. O antropólogo tá dando mole.

Mas tem gente com os olhos abertos. Como a produção da Fundição Progresso, que enfim se deu conta de que pode (e deve) aproveitar o espaço para fazer shows internacionais. Já rolou o Yellowcard, e vêm aí Slayer, Franz Ferdinand e New Order, só para vocês terem uma idéia. Um concorrente, enfim, para o luxo, a distância e a pompa do Claro Hall. Só esperamos uma qualidade de som semelhante, obviamente.

Ainda no quesito casa de shows, mas mudando para algo mais doméstico, vocês viram o novo rock carioca estampado na capa do caderno Rio Show, do Globo, há duas semanas? Uma matéria animadora e que mapeia muito bem o rock que se faz no Rio - não canso de dizer, o mais diversificado e criativo. Uma das coisas legais da matéria é uma relação com umas 12 casas de shows onde as bandas se apresentam. Toda vez que alguém de banda vem reclamar comigo que no Rio não tem onde tocar, de imediato eu enumero uns dez locais pra acabar com o lamento injustificado. E olha que eu ainda acrescentaria nomes ali omitidos, como o do tradicional Garage.

A matéria foi uma espécie de resposta ao projeto “B de Banda”, que o combalido Jornal do Brasil implantou há uns meses, e que resultará num festival de bandas novas a se realizar no Teatro Odisséia. Por trás dele está Mário Marques, que já há um certo tempo vem abrindo espaço esse tipo de evento, uma vez por semana. Seletiva para o Mada, lançamento de uma nova edição da revista Laboratório Pop, Festival Laboratório Pop… Só muda o nome e alguns detalhes, mas o espaço para as bandas é sempre contemplado. Podem falar o que quiser do MM – muitos não morrem de amor por ele -, mas esse mérito não lhe pode ser tirado. Mário Marques virou o principal organizador de eventos para bandas novas no Rio. É fato.

Neste mês o evento leva o nome de Festival Laboratório Pop, e eu estive lá em três dos quatro dias em que sete bandas tocam, até por questões profissionais – seja para conhecer novos grupos ou para fazer a cobertura para o próprio site da revista. É verdade que escolher bandas boas, a julgar pelas seletivas do Mada, nunca foi uma grande virtude de Mário Marques e de quem o ajuda nesse processo, mas, acreditem, vi muitas bandas legais que, antes, não tive a oportunidade de conhecer. Uma delas é o Superguidis, que renova o tal do rock gaúcho, e para a minha surpresa, já tem seguidores aqui mesmo no Rio. O que é a globalização.

Do mesmo Rio Grande do Sul conheci o bom rock do Cartolas, que venceu o Claro Que é Rock no ano passado, e seu vocalista performático/rebolante; os bons Los Porongas, do Acre, e Hereges, do Rio mesmo; o interessante Voz Del Fuego e Lingerie Underground, que foi finalista do Festival No Capricho este ano; e a revelação Cinzel, que não vai demorar muito para ser a banda da moda como é o Moptop hoje. Revi grupos que já conhecia de festivais pelo Brasil, como o caricato Star 61, da Paraíba, o bom Macaco Bong, de Cuiabá e o Bois de Gerião, de Brasília, e reafirmei o apreço pelos cariocas Stellabella e Cabaret. Evidentemente também vi bandas ruins, e a experiência serve, como sempre digo, para, ao menos, saber que elas são ruins. Ainda mais para quem trabalha na crítica musical, que deve sempre ter uma opinião formada sobre tudo.

Então, vamos e venhamos, como é que fica aquele negócio de que o Rio é o túmulo do rock? Ou de que São Paulo concentra mais e melhores bandas? Ou a tal da turma que se intitula “de fora do eixo” e reivindica para si a maternidade das bandas mais legais? Ou a tese de que não é possível um festival de rock independente no Rio? Tudo vai por terra com um pouco de trabalho para movimentar a tal da cena. É só acender o fogo que o combustível mantém a chama acesa.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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