Rock é Rock Mesmo

Ramones e a história; a história e Ramones

Marky Ramone toca clássicos com o Tequila Baby e oxigena a memória do colunista com histórias do arco da velha.

Meus amigos, tenho ouvido tantas frases que mal consigo, eu próprio, escrevê-las. Tem muita alegria espalhada no rock de hoje, tanta que acaba por faltar espaço para a revolta, para a ousadia. Sou do tempo em que carreiras profissionais eram estragadas, mas nunca se abandonava o rock. Porque é assim que tem que ser. Que alegria que nada. Queremos o rock e todas as suas revoltas. Guitarras, voltas e revoltas.

Domingo passado fui num festival em homenagem ao Ramones no Circo Voador, com a presença de ninguém menos que Marky Ramone, o “único” remanescente da banda que inventou o punk rock – enquanto música. Ele se junta aos outros integrantes do Tequila Baby e temos uma espécie de Ramones Cover da melhor qualidade. Antes, tocaram The Queers, o Tequila Baby, com seu próprio show e o Carbona, que já tem o novo disco no forno. O Tequila evidentemente fez um show excelente, dada a qualidade de seu repertório e a rodagem da banda, que é grande no Sul, mas no show cover é que o bicho pegou pra valer. Não é à toa que Tequila e Marky estão lançando o CD/DVD ao vivo, num caça-níquel exemplar.

O interessante era que, diferentemente de outros eventos que envolvem o nome Ramones, o público não era predominantemente composto por adolescentes, mas, sim, por aqueles que já têm uma história com o grupo que, além de emblematizar o punk e seus três acordes avassaladores, teve o mérito de ser bem popular no Brasil e na América do Sul, em seus últimos dias de existência. Assim, foi lembrado, lá, o show anunciado no final dos anos 80 no Monte Líbano, e que nunca aconteceu; a célebre apresentação do Canecão na qual um grupo de carecas foi acusado de ter jogado uma bomba de gás lacrimogêneo em pleno show, causando um tumulto dos diabos e a subseqüente prisão dos carecas – foi até bom porque senão seriam todos linchados; o show deste mesmo Circo Voador, que aconteceu em meio a uma operação de guerra; e ainda a espetacular apresentação no Claro Hall (ou ATL Hall ou Metropolitan), em 1996.

O show do Circo, em 1994, aconteceria junto com o Sepultura, já no auge, no que foi chamado de “Acid Chaos Tour”, fusão dos títulos dos álbuns lançados pelas duas bandas na época: “Acid Eaters” + “Chaos AD”. Acontece que, dizem, quando o Sepultura soube que no Rio o show seria no Circo, teria se recusado a tocar. A versão oficial divulgada na imprensa dizia quer os equipamentos teriam sido retidos na alfândega, mas até hoje não se sabe se é verdade ou não. O fato é que, depois dos acontecimentos do Canecão, uma verdadeira operação de guerra foi montada no Circo. De cara, toda a região foi cercada por tapumes, tipo aqueles de obra. O camarim foi montado ao lado, na Fundição Progresso, e os músicos chegaram ao Circo usando uma passarela que ligava as duas casas, sobre a rua. No Circo, para evitar aqueles que sempre escalavam a velha estrutura de andaimes, foi passado graxa em tudo o que era tubo. No fim das contas tudo aconteceu dentro dos conformes, sem maiores problemas; só as rodas de pogo habituais e uma ou outra eventual intervenção de seguranças.

Já no show de 1996 a lembrança mais forte que me ocorre é a da entrevista que tive a oportunidade de fazer com CJ Ramone, então baixista, no Hotel Intercontinental, em São Conrado. A matéria foi capa da edição número 2 da recém inaugurada Rock Press, que ainda era impressa em formato tablóide. Depois da entrevista, feita na véspera do dia do show, CJ pediu que o levasse até Copacabana, onde ele e outros dois roadies tomaram umas cervejas. Depois soube que, no show de São Paulo, ele passou mal no camarim, por conta de um apimentado quibe que comeu na Princesinha do Mar. Tinha que ser Copacabana mesmo, né? Histórias come essa foram contadas, relembradas e revividas no último domingo. Fato que mostra a força de uma banda histórica como o Ramones, e que o que é bom nunca morre, mesmo com os nomes mais importantes da banda já terem partido dessa para outra.

Envergonha-me aqui proclamar a apologia do show cover, mas como não se sensibilizar com a história do rock, num plano geral, e a do Ramones em particular? Como ficar imune a um ambiente de massa propício ao rock como aquele criado pelo Ramones? Era óbvio que, na sua fase derradeira, caso os problemas de saúde não atacassem os integrantes, sobretudo Joe, a banda ainda voltaria ao Brasil milhares de vezes, e estaríamos todos lá. Os mesmos que acompanharam Marky Ramone e Tequila nessa turnê pelo Sudeste, sem parar para pensar ou filosofar muito. Porque o rock é assim. Se impõe por si próprio, não carece de teoria das muito elaboradas; só um pouquinho de inteligência mesmo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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