Dio muda repertório, mantém bom gosto e conquista platéia
Em sua quarta passagem pelo Brasil, um dos mais carismáticos vocalistas do metal voltou a mostrar vitalidade, fazendo mais uma boa exibição. Fotos: Marcelo Martins.
Os olhos do “Holy Diver”, o eterno mascote de Dio, acendem no pano ao fundo do palco, quando a música é executada, emendada em “Stand Up And Shout” e abrindo caminho para “Gypsy”. A trinca é o ponto alto do primeiro terço do show que o baixinho fez ontem à noite no Claro Hall, no Rio. Conforme já havia adiantado, Dio não tocou a íntegra de “Holy Diver” (o álbum), como no recém lançado disco duplo/DVD, mas tirou outras surpresas da cartola. Na banda, outra mudança: saiu o guitarrista Doug Aldrich, que se reintegrou ao Whitesnake, e voltou o velho conhecido Craig Goldy.
Numa carreira tão longeva e cheia de passagens por grupos históricos além de sua própria banda, é normal que Dio tenha o que mostrar, mas ele acaba sempre conseguindo manter um repertório muito bem selecionado, tanto nas músicas como na ordem em que elas são apresentadas. Ontem, por exemplo, “Children Of The Sea”, da sua primeira passagem pelo Black Sabbath, foi a escolhida para a abertura, dando a deixa para um set list composto basicamente de clássicos, ficando de fora até os “hits” dos álbuns mais recentes. Dio permanece dono do palco, é até difícil de acreditar que aquele senhor de idade avançada e baixa estatura tenha um domínio da situação tão grande. Mas sua resposta vem em músicas excelentes – boa parte delas consagrada – e uma voz que resiste ao tempo e insiste em se manter impecável, com as variações de timbre que marcaram a carreira do vocalista.
Das novidades no set, em relação aos últimos shows no Brasil – quatro em nove anos – a inclusão de “I”, do álbum “Dehumanizer”, da segunda passagem pelo Sabbath, “I Speed At Night”, não tocada há um bom tempo, e “All The Fools Sailed Away”. Mas o segundo melhor momento veio com a dobradinha “Don’t Talk To Strangers” e “Rainbow In The Dark”, sempre uma das melhores do show, e onde o tecladista Scott Warren pode dar corpo a uma das seqüências de teclado mais brilhantes do rock pesado, criada pelo próprio Dio de maneira rudimentar. Warren em seguida complementa com seu próprio solo um outro do contido Craig Goldy, que não parecia muito animado na noite de ontem. Goldy toca bem, em solos e andamentos, mas a performance de palco deixa a desejar, talvez até para que Dio brilhe mais ainda. O que não acontece, diga-se, com o experiente Rudy Sarzo, que já tocou com meio mundo e perambula pelo palco com desenvoltura sempre escondido atrás de indefectíveis franjas. Simon Wright solou logo depois da sexta música, e ele, sim, mandou uma seqüência semelhante à do DVD, incluindo os samplers de música erudita no final.
O show todo é marcado pelo peso, mas é impressionante como nas músicas do Black Sabbath isso realça mais, reforçando a importância da banda para o a música pesada contemporânea. “Neon Nights” acabou ficando de fora, mas “Heaven And Hell”, sempre a mais aclamada e cantarolada pelo público, fechou em grande estilo, depois de duas do Rainbow, “Man On The Silver Mountain”, mais lenta que o normal, e “Long Live Rock’n’roll”. No bis, “We Rock” e a espetacular “The Last In Line. No fim das contas a certeza de que, sob quaisquer circunstâncias, um show de Ronnie James Dio é sempre uma aposta certa: não decepciona nunca.
Set list completo:
1- Children Of The Sea
2- I Speed At Night
3- One Night In The City
4- Stand Up And Shout
5- Holy Diver
6- Gypsy
7- Solo de bateria
8- Sunset Superman
9- Don’t Talk To Strangers
10- Rainbow In The Dark
11- Solo de guitarra + solo de teclado
12- I
13- All the Fools Sailed Away
14- Man On The Silver Mountain
15- Long Live Rock’n’roll
16- Heaven And Hell
17- We Rock
18- Last In Line
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