Rock é Rock Mesmo

Como se adaptar ao jeito voraz de se consumir o rock nos nossos dias?

Quem reclama do mundo midiático de hoje revela a dificuldade em se adaptar e uma realidade mutante, já que estamos no meio de uma revolução tecnológica, de mídia e de costumes.

Meus amigos, o tempo passa, o tempo voa, e a via da gente tem que ficar numa muito boa. Ninguém evolui pra trás, então tem que ser assim mesmo. Todo mundo quer saber como você ouve música hoje em dia, como se ninguém soubesse o que passa bem debaixo dos nossos narizes. Deve ser porque hoje tudo passa rápido demais, e aí não dá tempo de os caras perceberem. Ao menos os caras mais velhos. Os que já encontram o mundo como ele está eu aposto que pensam diferente.

Imagine que você nasceu, está crescendo, e, antes de conhecer, por exemplo, um aparelho de rádio, tem contato com um computador. Obviamente ele tem conexão à cabo das mais velozes, e Internet, a essa altura uma coisa básica. Ali você faz tudo: se corresponde com amigos e estranhos, faz amigos, conversa no msn, faz trabalhos de escola, passa o tempo de bobeira e escuta música, lê sobre música, escreve sobre música no seu blog, descobre música, baixa música, grava música, faz música. Música, música, música. Achou estranho? É assim o mundo em que vivemos. E não é de hoje.

Mas se você pegou tudo isso no meio do caminho, deve tomar cuidado para não entrar em parafuso e de repente se ver dizendo que tudo isso é “coisa de gente nova” ou “bobagem de criança ou adolescente”. Me refiro a quem não vive sem música, é fã de música. E de rock, claro. Porque, acreditem, tem gente por aí perdendo o trem da história. Outros que já perderam, mas conseguiram uma segunda passagem, e ainda há aqueles que chegaram um pouco atrasados, mas não perderam completamente o bonde. E você, tá em que categoria? Eu falo por mim, e não sei dizer. Porque tudo depende do referencial, e referência, nos nossos tempos, é uma coisa complicada de se identificar.

Por mais que se tente manter-se atualizado, a coisa não é fácil, não. Explico. Quantas vezes já não foi publicado um texto em que o articulista analisa a voracidade desses tempos, apontando novos artistas que surgem do nada, viram o grande sucesso e voltam para o limbo também rapidamente? Em geral, a reclamação é que qualquer banda, do nada, é “hypada” sem trazer nada de novo. E depois outra, e outra, e outra… Eu próprio já divaguei aqui sobre a falta de heróis, grandes ícones no rock. Pense bem. Desde o Nirvana que não surge nenhuma banda que lidere um movimento e seja um verdadeiro grande ícone. Esse tipo de texto, embora em geral tenha boa argumentação e se baseie em fatos concretos, revela, de outro lado, a dificuldade que quem os escreve tem em se adaptar e essa realidade mutante, justamente por estarmos todos no meio de uma revolução tecnológica, de mídia, e, conseqüentemente, de costumes.

É verdade que a fábrica de hypes sempre existiu, ao menos desde que fundaram o New Musical Express, renomado semanário inglês especialista nessa prática. Mas pensem bem. Comprava-se uma edição do NME em qualquer banca de uma grande capital, com cerca de um mês de atraso. Hoje, com um clique vou lá e vejo, não tudo, mas em linhas gerais, o que tá saindo. Ok, sei que não é todo mundo que tem computador ou Internet, mas me refiro a quem curte música, comprava o NME há vinte anos, e hoje, certamente, tem essas facilidades modernas, nem que seja no trabalho, escola ou lugar de acesso público, ainda que não gratuito. Bom, né? Só que, aí, a velocidade da tal fábrica de hypes também aumentou, e o acesso a tudo também. E dá-lhe mais bandas. No passado, imaginava-se o futuro com navezinhas voando, tele-transporte e deslocamento individual – tipo aquele mostrado na Apoteose há uns anos – e outros inventos que apareciam nos Jetsons. Mas o futuro chegou e ele é pura informação. Ou, se preferirem, mídia.

Ficar aqui divagando prós e contras de uma época ou outra é o mesmo que discutir que time do Brasil foi melhor – não se compara épocas diferentes nem isso aqui é Bola é Bola Mesmo. É preciso, isto sim, extrair o máximo que pudermos de tudo. O problema é a extensão desse tudo. Por exemplo, alguém aí indicaria com precisão uma boa leitura na Internet? Um bom site sobre música? Um bom (vá lá) blog? No fim das contas, acabamos nos voltando para aqueles cujos nomes têm tradição em determinada área, quem vêm de antes dessa tal revolução. Isso eu, você, e aquele articulista que reclama da fábrica de hypes. Mas e quem já nasceu nesse mundo midiático em que a gente vive? Essa é a grande questão.

Para muitos – e eu até certo ponto concordo – quem dá as cartas aí é o marketing, que, no ímpeto de “conquistar mercado”, ataca a faixa mais nova do público injetando uma quantidade considerável de porcarias justamente nas novas gerações, assim como fazia no início a rede Mac Donald’s, e hoje temos o estrago feito. Na área da música, no entanto, dada a falta de ação das grandes corporações, dos governos e (até) dos artistas, a coisa está completamente em aberto, sem pai nem mãe. Só avança um pouco quando intercedem mídia e telefonia, porque aí as operadoras não estão dando mole, não.

E a opinião, por onde anda? Praticamente não existe mais. Porque hoje tanta gente tem opinião sobre tudo, que ela se pulverizou em posts em milhões de blogs. Há tanta opinião que, no fundo, no fundo, não existe opinião alguma. Porque opinião sobre determinado assunto requer análise e embasamento, e quem faz isso e põe na web, logo é copiado é tudo e desdobrado/transfigurado até a opinião perder autor e se esvair por completo. O que fazer, então?

A verdade é que, num mundo onde nada parece consolidado, apesar da velocidade generalizada, só vamos saber avaliar tudo depois que certo tempo passar – o tempo, nesse caso, continua fazendo valer o clichê segundo o qual é o senhor da razão. Ou seja, só quando uma geração inteira passar e outra chegar, já com as mudanças todas consolidadas, é que vamos ter respostas mais firmes. A pergunta que se impõe, por enquanto, é se elas, as mudanças, um dia terão fim. Enquanto isso, paremos com as reclamações e vamos equilibrando os pratos e dançando conforme a música.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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