Rock é Rock Mesmo

Saída de Iggor Cavalera sacramenta que Sepultura, sem Max, nunca funcionou

Fato leva a intuição de que Max e Iggor deveriam se juntar. Seria o início da construção de uma ponte para a volta do Sepultura clássico.

Meus amigos, não há mal que não termine, nem bem que dure pra sempre. Tudo passa. E o tempo, este sim, é o senhor da razão. Até o Collor sabia disso. Eu não. Ou, por outra, sei, sim, mas por um ou outro motivo acabo, na prática, desafiando o óbvio. E quebrando a cara, lógico, por não seguir aquilo que prego. Esse é o termo: ando mais para um autêntico pregador de pagãos do que escrevendo para iniciados. Onde foram parar, aliás, os iniciados?

Já disse que no rock nada tem fim. Isto é, uma banda acaba hoje, e, de imediato, já começa a contagem regressiva para a sua volta, o que cedo ou tarde acontecerá. Vejam o caso do Mutantes. Nem o mais ferrenho crédulo apostaria que eles voltariam a tocar juntos, e com uma formação, diga-se de passagem, que não é das piores, exceto pela Zélia Duncan. Lógico que Rita Lee, a ex-integrante mais bem sucedida, não iria embarcar numa furada dessas. Mas quem apostaria, volto a questionar, que um Arnaldo lelé da cuca voltaria aos palcos com seu irmão? Eu nem acredito – acho que logo eles não se agüentam de novo - mas taí um caso emblemático que corrobora a tese de que banda nunca tem fim.

Um dos indícios de que uma banda está na eminência de se reunir é quando o cara que saiu, por motivos diversos, mas sempre resumidos na expressão “divergências musicais”, volta a fazer um som parecido com o da banda de origem. Aconteceu por exemplo, com o Iron Maiden. Adrian Smith saiu porque queria fazer algo mais identificado com o rock progressivo do que com o heavy metal, e Bruce Dickinson porque estava um pouco cansado do metal. Ambos, fora do Maiden, fizeram o que quiseram. Quando se juntaram e lançaram, sob a chancela de Bruce, um disco com o som muito próximo do Iron (“The Chemical Wedding”, 1998), foi dada a senha para que eles voltassem. E aí o Iron Maiden voltou decolar com “Brave New World”, disco que a crônica heavy metal considera ter levado a banda ao topo pela segunda vez. É preciso dizer, sem falsa modéstia, que este escriba antecipou tudo, na época, por pura intuição.

Pois foi partindo dessa lógica que, ao ouvir o último álbum do Soulfly, “Dark Ages”, cravei que estava na hora do Max Cavalera voltar para o Sepultura, numa das colunas passadas. Acontece que no último dia 12 veio a bomba. Iggor Cavalera postou no site oficial do Sepultura comunicando sua saída da banda. Há tempos ele já vinha empurrando com a barriga, e enfim confirmou a notícia na qual ninguém queria acreditar. Sempre disse que um baterista numa banda não faz tanta diferença, à exceção de nomes como Neil Peart ou Keith Moon, mas o caso de Iggor no Sepultura é uma coisa bem particular. Se fosse ele a sair, com Max ainda na banda, ainda vá lá, mas sem ele e Max não é mais possível o Sepultura.

A rigor temos que chegar a uma constatação difícil de se admitir:sSem Max, o Sepultura não deu certo. Não só pela sua saída, ou por causa do desempenho de Derrick Green (que nunca comprometeu), mas o fato é que sem Max o Sepultura não conseguiu fazer um grande álbum sequer. Até o Toninho Iron sabe disso. Ainda dava gosto de ver Igor tocando horrores e Andreas fazendo de tudo no palco, mas o interesse dos fãs pela banda brasileira de maior sucesso no exterior em todos os tempos se resumia em vê-la tocando músicas do passado, da era Max. Para piorar, os integrantes do grupo priorizaram suas vidas pessoais e o Sepultura fez pouquíssimas turnês no exterior, frustrando fãs em todo o mundo e praticamente se retirando do mercado da música pesada. Em 1996, antes de Max sair, com “Roots”, é bom que se lembre, ele estava no topo. Sepultura, sem Max, repito, não deu certo.

Max, por sua vez, foi fundo nas suas crenças e lançou discos com o Soulfly, com diversas formações diferentes. Atirando para todos os lados, andou de braços dados com o nu-metal, foi chamado de “world metal”, numa alusão à world music, tocou reggae e o escambau. Se não obteve o sucesso de antes, se manteve no mercado fazendo várias turnês, sobretudo nos Estados Unidos. E agora, finalmente, investe numa espécie de volta às raízes com “Dark Ages”, numa clara intenção de voltar ao som que o consagrou na época do Sepultura.

Em meio a isso tudo, a saída de Iggor leva a óbvia intuição de que ele deveria se juntar a Max e os dois fazerem algo juntos – ainda mais que Roy Mayorga, que já tocou no Soulfly, hoje está no Sepultura. Iggor no Soulfly seria o início da construção de uma ponte para a volta do Sepultura clássico, considerando que sem Max o Sepultura não funcionou. Mas uma reflexão mais calma enxerga vários empecilhos entre um lado e outro que inclui – tenho vergonha de falar – os problemas entre a esposas dos integrantes, os donos do nome Sepultura, diferenças pessoais e teimosias de parte à parte. A favor tem Sharon Osbourne, que cansou de assinar cheque em branco para uma apresentação do Sepultura, com a formação clássica, no Ozzfest.

Disse isso tudo não porque acho necessária a volta do Sepultura. Sou, aliás, refratário a esses retornos. Mas como já falei, eles são inevitáveis e um dia, cedo ou tarde, acontecem. O que vai ser difícil de engolir é o Sepultura continuar do jeito que está. Mas se os caras quiserem seguir assim, que lancem os discos pra gente ver se são bons. Tamos aqui pra isso mesmo.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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