Fazendo História

Evanescence
Demolindo as paradas

Texto apresentando o grupo americano publicado na Rock Press 55, de setembro de 2003.

evanescenceDe vez em quando aparece, do nada, uma banda que toma as paradas de assalto, e fica todo mundo perguntando: de onde veio isso? É exatamente o que está acontecendo agora como Evanescence, que depois de atingir o topo nos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, tem o segundo disco, “Fallen”, lançado no Brasil. A julgar pela aceitação da música “Bring Me To Life”, cujo videoclipe não para de rolar na MTV, a banda tem tudo para manter o sucesso. “Bring Me To Life” foi incluída na trilha sonora do filme “Demolidor – O Homem Sem Medo” (baseado no famoso personagem de Stan Lee), o que catapultou o grupo para o sucesso. Na música, a participação de Paul McCoy, do 12 Stones (inexpressivo grupo americano) deu ao Evanescence a pecha de nu-metal, embora o trabalho do grupo pouco tenha a ver com o que faz Linkin Park e congêneres.

O Evanescence nasceu do encontro entre a bela Amy Lee, que canta, toca piano e compõe quase todas as letras, e o guitarrista Ben Moody, ainda nos tempos de colégio. Os dois começaram a compor juntos, e algumas músicas chegaram a tocar nas rádios da cidade natal deles, a pequena Little Rock, no estado do Arkansas. Como um duo, eles gravaram algumas demos e chegaram ao primeiro álbum, “Origin”, em 2002. O disco é um apanhado de canções instrumentais ou só com voz, teclado e recursos eletrônicos, montando um clima denso e atmosférico, que justifica o nome Evanescence, algo como uma volatilização, dissipação no ar.

Sem nunca ter tocado ao vivo, Amy e Ben continuaram gravando, até que foram contatados pelo produtor Pete Matthews (Robert Cray), que resolveu fazer a ponte entre a banda e uma gravadora, o que resultou num contrato com a Wind-Up, empresa caça-talentos que tem no currículo a descoberta do Creed. A inclusão de “Bring Me To Life” na trilha de “Demolidor…” (a baladinha acústica “My Immortal” também está no filme) foi o estopim para que o Evanescence conquistasse o topo das paradas, e a distribuição mundial pela Sony garantiu o lançamento do álbum também no Brasil. “Fallen” foi lançado em março, e traz uma verdadeira coletânea de canções sensíveis, centradas numa proposta que se identifica muito mais com o gothic metal, ou mesmo com o pós-punk oitentista, do que com o nu-metal. Não por acaso a voz de Amy Lee se assemelha a de muitas vocalistas de bandas de gothic metal, como Cristina Scabbia (Lacuna Coil) e Liv Kristine (Theatre Of Tragedy) e até com a de Julianne Regan, que na década de oitenta arrasava à frente do injustiçado All About Eve.

Em Fallen o Evanescence, além de Amy e Ben, contou com músicos contratados, incluindo um coro de vozes. Nos shows que a banda começou a fazer depois do sucesso de “Bring Me To Life”, completam a formação John LeCompt (guitarra) e Rocky Gray (bateria). As mudanças no line up sugerem que se trata mesmo de um duo, outro fato que identifica o Evanescence com o pós-punk oitentista.

Feitas todas as ressalvas, “Fallen” não é um disco brilhante e está muito aquém de trabalhos lançados por grupos identificados com esse tipo de som, como os finlandeses Him, Sentenced e Entwine, por exemplo, ou ainda como Nightwish e Trail Of Tears, só para citar os que têm vozes femininas. Primeiro porque é um disco inconstante, em que músicas mais lentas se alternam com outras com sotaque mais pop, quebrando uma necessária evolução. Depois, apesar de todo o apelo que a voz de Amy por si só tem, a falta de composições mais refinadas e de uma busca mais apurada nos arranjos deixa o disco carente de uma identidade, um conceito. Mesmo assim, bons momentos estão garantidos em músicas como a intro “Going Under”, “Imaginary”, “My Last Breath” e “Whisper”. E, por que não, também no hit “Bring Me To Life”.

Caso seguisse o caminho normal das coisas, hoje o Evanescence estaria tocando discretamente nos festivais europeus e teria tudo para conquistar espaço na cena gothic metal. Como o sucesso meteórico veio antes, agora está tendo que mostrar a todos o porquê. Oxalá isso não desande a música do grupo e ainda abra o espaço para outros do gênero.

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