No Mundo do Rock

Vivendo de antigos sucessos e olhando para o futuro, 10,000 Maniacs volta ao Brasil

Grupo americano apresenta sua nova formação amanhã, no Claro Hall. No sábado, toca também em São Paulo. Íntegra da entrevista feita para a matéria publicada no Jornal do Brasil de ontem. Fotos: Divulgação.

Temos uma perfeita combinação agora, Oskar é um rockeira de verdade e Mary tem uma voz muito bonita.

Temos uma perfeita combinação agora, Oskar é um rockeira de verdade e Mary tem uma voz muito bonita.

Primeiro foi a saída da vocalista Natalie Merchant, em 92, que partiu para uma carreira solo. Depois, o falecimento do guitarrista Robert Buck, já em 2000, fez o 10,000 Maniacs se desmontar de novo. Mary Ramsey, a substituta de Natalie – que chegou a gravar dois discos - também pulou fora. No lugar dela entrou a revelação do country/blues americano, Oskar Saville, que, às voltas com sua carreira solo e com uma gravidez, não fez com que a coisa andasse. Agora uma turnê de 25 anos promete servir de aquecimento para a banda começar a pensar no futuro. Foram quatro shows nos Estados Unidos e há muitos outros agendados para o verão do Hemisfério Norte. Mas antes a banda toca no Brasil, onde já esteve em 1997 e 1998. E, de quebra, traz a reboque Mary Ramsey, que agradou daquela vez se revezará com Oskar no palco. Completam a banda Jeff Erykson (guitarra), Steve Gustafson (baixo), Jerry Augustyniak (bateria ) e Dennis Drew (teclados).

O 10,000 Maniacs nasceu na periferia de Nova Iorque e se destacou ao misturar country rock com a música pop alternativa, no início dos anos 80. As batidas leves e melodias típicas do country, associados à diferenciada voz de Natalie Merchant fizeram o grupo ultrapassar as barreiras do underground. Músicas como “These Are Days”, que chegou ao primeiro lugar na parada americana, e “Trouble Me” ficaram conhecidas em todo o mundo. Mas o grande hit é mesmo “Because The Night”, resgatada do repertório de Patti Smtih para o “MTV Unplugged”, que vendeu mais de dois milhões de cópias. De sotaque interiorano, o grupo influenciou desde artistas do alt country como Ryan Adams até ícones do pop como o britânico Cranberries.

Conversamos com o tecladista e fundador da banda Dennis Drew, por telefone. Ele nos concedeu a entrevista direto dos estúdios da rádio que coordena em Jamestown. Além dos shows desse final de semana e dos planos para o futuro próximo da banda, ele falou do trabalho comunitário da rádio, novos artistas e meio-ambiente, um velho assunto tratado pelo 10,000 Maniacs. Confira:

Rock em Geral: Como está indo a turnês nos Estados Unidos?

Dennis Drew: Na verdade não estamos fazendo uma grande turnê regular, é uma turnê de 25 anos, tivemos só quatro shows em abril, e os dois próximos serão aí no Brasil. Até agora correu tudo bem, mas os shows maiores serão nos festivais a céu aberto, durante o verão.

RG: Vocês já tocaram duas vezes no Brasil. O que se lembram daqui?

Dennis: O Rio é inacreditavelmente bonito… Voar para o Rio pela primeira vez e ver aquela costa maravilhosa é tudo que eu me lembro, foi simplesmente inacreditável. Eu fiquei surpreso como o público conhecia as músicas, todos cantavam tudo. Uma coisa legal quando você toca pelo mundo em diferentes cidades é verificar o quanto somos conhecidos e queridos. E eles gostam das nossas músicas pelas mesmas razões que o público da Alemanha e da Califórnia gosta. E isso é muito bom.

RG: Como decidiram chamar Mary Ramsey para essa turnê?

Dennis: Estamos sempre com Mary, somos amigos dela e achamos que fazer shows no Brasil de novo, onde tivemos bons momentos com ela, seria interessante. Temos uma perfeita combinação agora, Oskar é um rockeira de verdade e Mary tem uma voz muito bonita, é uma grande violonista, e temos sopros também, em cinco ou seis músicas. Ficou muito bom.

RG: Elas cantam juntas ou cada uma canta em uma determinada música?

Dennis: As duas coisas, elas cantarão em músicas diferentes e também juntas… Algumas músicas têm uma arranjo específico para Mary, mas elas também cantam juntas.

RG: Vocês vão tocar só os clássicos ou há músicas novas também?

Dennis: Tocamos músicas de toda a nossa carreira, umas coisas novas… Não trabalhamos muito em coisas novas esse ano, ficamos a toa por um tempo. Vai ter música de todos os discos, mas principalmente um monte de hits.

RG: Vocês estão compondo material para um novo álbum?

Dennis: Não ainda, eu tenho algumas músicas que estão gravadas numas demos e pretendemos ouvir juntos depois desses shows no Brasil, para ajeitar tudo. Não temos feito muita coisa, Oskar acabou de ter um bebê, então esteve muito ausente. Acabamos de começar nossas atividades nesse ano, e como temos essa turnê de 25 anos, estamos tentando trabalhar quando as crianças estão na escola. Todos têm família e estamos tentando ser família agora.

Temos um som rural, não somos uma banda de cidade grande, somos uma banda de uma cidade pequena americana com uma sensibilidade de cidade pequena

Temos um som rural, não somos uma banda de cidade grande, somos uma banda de uma cidade pequena americana com uma sensibilidade de cidade pequena

RG: A maioria dos sucessos do 10,000 Maniacs foi escrita por Robert Buck e Natalie Merchant. Como vocês estão compondo agora?

Dennis: Não posso dizer como é porque ainda não fizemos muita coisa, mas nossa abordagem deve ser como sempre fizemos: a vocalista escreve as letras, é a arquiteta final de como as músicas deverão ser, porque sempre tem o controle dessa parte. Mas todos nós trazemos idéias, escrevemos músicas, de todos os pequenos grupo que temos, ensaiamos em cima delas e vemos o que acontece. Todos se envolvem nisso, tem músicas de todos.

RG: Olhando hoje, de longe, como você vê a carreira do 10,000 Maniacs com um todo?

Dennis: Somos uma pequena banda do interior de Nova Iorque que veio do nada, e tenho orgulho de dizer que não éramos mesmo parte da máquina. Somos uma banda que se preocupa com a alma, com as pessoas, o meio ambiente, sobre o pensamento. Queremos mostrar não só os nossos próprios problemas, mas tentamos ser universais nas nossas letras, falar de preocupações de todas as pessoas. Este é uma parte do legado que temos. Entre as bandas de rock fomos uma das primeiras a ter uma vocalista, naquele tempo, em 1981, quando começamos, e sou muito orgulho disso também. Temos um som rural, não somos uma banda de cidade grande, somos uma banda de uma cidade pequena americana com uma sensibilidade de cidade pequena.

RG: Você falou em meio ambiente, como você vê essa questão nos dias de hoje?

Dennis: Acho que é o mesmo problema de 40 anos atrás, realmente não foi feito nada nessa área, o que é muito frustrante. Me deixa mal a forma com a qual não sabemos lidar com o aquecimento global ou a devastação das florestas por tanto tempo. É tudo sobre dinheiro, dinheiro, dinheiro…

RG: Quando vocês, cidadãos americanos, pretendem pressionar o Presidente Bush para ele, enfim, assinar o protocolo de Kyoto?

Dennis: Eu já esperava por essa pergunta… Os americanos estão se tocando disso, e temos que dar nossas respostas com o voto. Eu espero que isso aconteça em novembro, quando vamos trocar o congresso, que é quem realmente representa os interesses do povo americano, não os interesses das corporações industriais. Temos uma eleição de cada vez, e estamos trabalhando duro nessa rádio que eu coordeno. Esperamos por uma mudança na liderança do congresso no próximo ciclo eleitoral, esta é a melhor forma de tratar disso. Por hora é o que podemos fazer: votar.

RG: Essa é a sua própria rádio?

Dennis: Eu coordeno uma rádio comunitária aqui em Jamestown…

RG: E que tipo de música vocês tocam aí?

Dennis: Na maior parte do tempo temos programas de entrevistas, educacionais e culturais, mas tocamos muito da nova música alternativa… Strokes, Death Cab For Cutie, Arctic Monkeys… Tocamos músicas para pessoas antenadas. Mas misturamos com um pouco de música local, de bandas locais. E temos ainda músicas de outros continentes, como a África, e às vezes até do Brasil. Trago para cá meus discos do Caetano Veloso, Jorge Ben, Milton Nascimento…

RG: E Sepultura?

Dennis: Sepultura é um pouco pesado, não? Mas temos dois caras que têm um programa de música pesada, que vai ao ar à noite. Temos também programas de rockabilly e reggae.

RG: Falando do 10,000 Maniacs de novo, que bandas vocês acham que influenciaram nesses 25 anos?

Dennis: Nunca pensei nisso, mas acho que o Cranberries se parece conosco, mesmo sendo uma pouco mais pesado. Acho que até o Goo Goo Dolls veio depois de nós e parecia conosco no começo…

A formação clássica do 10,000 Maniacs, ainda com Natalie Merchant - abaixo, à direita - na banda

A formação clássica do 10,000 Maniacs, ainda com Natalie Merchant - abaixo, à direita - na banda

RG: Como você vê a cena do alt country aí nos Estados Unidos?

Dennis: Eu acho bem legal, gosto de música country e de country rock, sempre levei isso para dentro da banda. Desde Hank Williams gosto muito disso, e também gosto de bluegrass. Eu adoro o Ryan Adams, ele funde Gratefull Dead com Rolling Stones… É muito bom.

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