Rock é Rock Mesmo

Sanduíches, batatas fritas e outros tira-gostos. E o rock, claro.

Enquanto São Paulo cai na real, Frank Black, Inocentes, Luxuria, Dio, Police e polícia passeiam por aqui.

Meus amigos, a vida não anda fácil, não. Tá ruim pra todo mundo e pra mim não está pior. O bicho pegou lá em São Paulo. Os caras pensavam que só aqui é que era assim, só porque lá impera a planície. E a culpa, agora, é das telefônicas. Eu bem que avisei: não é fantástico quando a modernidade está do lado do crime? Bin Laden destrói as torres gêmeas usando a Internet, e, por aqui, o celular, grande ícone classemediano, é o algoz da própria classe média. Lindo. Mas o rock – acredite - alivia.

Não por acaso recebi mensagens as mais diversas – e não só de além Dutra - sugerindo uma espécie de trilha sonora para o caos. “Pânico em SP”, do Inocentes seria facilmente eleita a música do dia da 98FM ou a campeã do “Show dos Bairros” da Rádio Mundial, se esse tipo de coisa ainda existisse. Mercenárias, com “A polícia vai / a polícia vem” também foi bem votada, e muita banda de punk e pós punk deve ter batido no peito, com orgulho: “há mais de vinte anos já falamos disso”. Outras, mais novas, agora têm um cardápio dos mais variados para novas letras de protesto. Até os emos podem parar de sofrer por amor um pouco, não é não? Mas o e-mail mais comovente que recebi – ou teria sido num perfil qualquer do orkut? – foi o que trazia a letra de “São Paulo”, do 365, mostrando que o orgulho de ser da cidade não pode ceder nunca. Que sejam bem-vindos ao caldeirão, diria o Cão na porta do inferno.

O bom da bagunça é que a normalidade sempre vem depois. E não estamos aqui para isso, né? Estamos aqui para o rock. Ou, por outra, para pensar o rock. E as coisas não estão tão ruins assim, não. Tem um monte de banda boa aparecendo e gravando bons discos, em meio a uma enxurrada de grupelhos. Até nas grandes gravadoras, onde os caras estão sem rumo, tem artista novo sendo lançado. Canastra, Luxúria e Moptop são só alguns dos nomes que me vêm à cabeça. É pouco, sim, mas é melhor que nada. Lá fora, artistas lançam discos sem parar. Lá também tem crise e pirataria, mas acho que não tem a burrice das gravadoras daqui. Ou, de outro lado, a esperteza delas, no sentido que “deve ter alguém se dando bem com isso”. Outro dia revi o filme “Meu Tio Matou Um Cara”, de Jorge Furtado, e só então percebi que o consumo de disco pirata virou uma coisa cultural. Numa das cenas, dois adolescentes de classe média deixam de pegar um táxi e economizam a grana pra comprar CDs. Um pergunta para o outro: “Dois originais ou seis piratas?”. Adivinhem qual foi a resposta? Se fosse nos anos de chumbo, certamente essa passagem seria censurada pela força das corporações. Mas nem é bom lembrar disso, não.

Tem um disco do Frank Black que acaba de ser lançado no Brasil, onde ele se mostra um baladeiro da gota. Chama-se “Honeycomb” e renuncia ao rock que Black Francis quase assumiu ser pra sempre no Pixies. Mas melhor assim do que fazer parte de uma banda jurássica numa turnê caça-níqueis. O disco é uma espécie de tributo ao country americano, e tem a participação de vários artistas consagrados do gênero. Foi gravado em meio a turnê de reunião do Pixies e tenta ser alternativo, country, pop, alt country e o escambau. Mas o careca gordinho ciscou, ciscou e não conseguiu nada disso, Nada de bom dentro disso, melhor dizendo. (Atenção, isso aqui não é uma resenha).

Tô querendo escutar o novo do Morrissey, mas ainda não consegui. Lembro dele porque, se a memória não me falha, foi ele quem disse, ao ouvir os fãs, em pleno show, pedirem músicas dos Smiths: “se querem ouvir os Smiths vão para casa escutar CDs!”. Genial. Sabe tudo o Moz. Ele até que manda uma ou outra da ex-banda nos shows, mas sempre pedem mais. Por isso a bronca, Morrissey também não tolera as viúvas que andam por aí desesperadas por ouvir algo dos falecidos. Outro que mandou bem foi Stewart Copeland. O entrevistei via e-mail, a propósito do filme “Everyone Stares –The Police Inside Out”, só com cenas gravadas de próprio punho nos tempos do Police. Não pude deixar de perguntar o porquê do fim da banda. A resposta? “Quando você chega aonde você queria ir, a viagem acaba”. Genial. Essa entrevista logo, logo vai ao ar aqui no Rock em Geral.

Falei em viúva e me lembrei de Patton. O inefável Mike Patton. Passo umas duas ou três semanas sem falar nele, e, acreditem, ouço reclamações. Outros ignoram seu legado e até me perguntam se ele é mais um dos personagens, a exemplo do meu amigo Moderninho de Plantão, do Maluco da Praça ou do Mourão de Concreto. Tenho vontade de dizer que é, assim não tenho eu próprio que apresentar essa figura abstrata a quem sequer sabia de sua existência. Mas pigarreio, disfarço e mudo o rumo da prosa. É melhor assim. Para um terceiro grupo, Patton é, para mim, uma espécie de Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo”. Nem tanto meus caros, nem tanto.

Mas, em termos de personagens, a coisa aqui tá boa hoje. Pânico em SP, bandas novas, Frank Black, Morrissey e Patton. Vamos chamar o Dio, então. Não o pai de J. Cristo lá na Itália. Ronnie James Dio, o rei da voz. Digo isso porque da última vez que o pequerrucho cinquentão esteve aqui, cantou por mais de duas horas sem vacilar, mostrando uma forma impecável. E digo, também, porque em meados de julho ele volta a tocar no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte. Ele está em turnê do álbum ao vivo “Holy Diver”. Turnê do álbum ao vivo… É mole? Mas Dio pode. Como sempre digo, Lemmy é Deus; Ozzy é pai; Dio é o padrasto; e Bruce, o irmão mais velho.

Falei tanto e não disse nada do que era pra ser dito. Ou, por outra, não havia muito a ser dito. Disse e já retifico. Tem muita coisa pra se dizer, sim. Mas não era hoje. Sabe quando vão lavar a caixa d’água do seu prédio, não tem como fazer almoço e a solução é o sanduíche, a batata frita, o enlatado? É mais ou menos por aí. E, vamos e venhamos, ninguém morre de fome por causa disso, né?

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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