No Mundo do Rock

Reação em Cadeia se arma para conquistar o Brasil

Grupo gaúcho lança terceiro disco por gravadora do Rio e espera manter o sucesso comercial consolidado no Sul; primeira tiragem esgotou em quatro dias. Fotos: Pedro Andrade/Divulgação/Deckdisc.

A reação que, em cadeia, promete conquistar o Brasil

A reação que, em cadeia, promete conquistar o Brasil

A história já é mais ou menos conhecida. Grupo do Rio Grande do Sul faz sucesso doméstico e grava novo disco para romper as barreiras geográficas e conquistar mercado em todo o Brasil. Já aconteceu com muita gente; poucos, entretanto, conseguiram. Mas com o Reação em Cadeia a coisa tem tudo para ser diferente. É que os dois discos independentes lançados antes chegaram perto da marca das 200 mil cópias. Não é erro de digitação, não: somados, “Neural” (2002) e “Resto” (2004) bateram nas 200 mil.

O Reação é de Novo Hamburgo e nasceu no final da década de 90. Mas deu tempo para que Jonathan Correa pegasse inspiração do grunge e montasse sua própria banda, com Daniel Jeffman (guitarra), Márcio Abreu (baixo) e Nico Ventre (bateria). Ele, com um timbre de voz bem assemelhado ao de Eddie Vedder, claro, se tornou vocalista e principal compositor. O tempo logo mostrou uma forte identificação com o chamado pós grunge de Seether, Puddle Of Mudd, Nickelback e Creed, coqueluche no mercado americano. No rock nacional, no entanto, embora todas essas bandas emplacassem sucessivos hits nas FMs, o gênero não havia emplacado. Foi nesse nicho que o Reação em Cadeia mergulhou.

Tocando como atração principal num palco secundário do festival Atlântida, em 2002, a banda teve a visita do produtor Rafael Ramos, que iniciou os contatos que resultaram na gravação do primeiro álbum pela Deckdisc. “Febre Confessional” foi lançado no início do mês e esgotou a modesta tiragem de 8 mil cópias em vorazes quatro dias. Com a entrada de Maurício Faria (baixo) e Elias Frenzel (bateria), o disco foi feito sob medida para encorpar ainda mais a veia comercial encontrada pela banda. Jonathan, o “livro aberto em pessoa”, nos concedeu essa entrevista por telefone, de Florianópolis, onde a banda tocaria naquela noite, e entrega mais detalhes sobre toda essa história.

Rock em Geral: Como vocês se prepararam para gravar esse disco, já que havia uma estrutura toda diferente, a gravação no Rio e tal…

Jonathan Correa: Começamos a ensaiar os sons um ano e meio antes de entrar em estúdio. Estávamos trabalhando com eles num ensaio normal, numa hora que em que ensaiávamos para os shows, fazíamos umas jams para começar a aprimorar esses sons. Na verdade fizemos tudo em estúdio, mas com idéias que vieram da estrada. Foi mais ou menos um ano e pouco para preparar isso.

RG: Depois que vocês entraram em estúdio chegaram a fazer alguma coisa nova?

Jonathan: Tinha um som, “Tarde Demais”, que foi acabado no estúdio. É uma música que era para ser uma parada com voz e guitarra, e talvez algum adereço que nós não sabíamos qual era. Mas no final das contas achamos que podíamos colocar um peso de batera maior ali, que cabia uma parada mais com “pegadão”, e acabou rolando daquele jeito. Foi o único som que foi para o estúdio para resolver alguma coisa que faltava. O resto era só ajeitar o que tinha sobrando demais ou o que faltava.

RG: Nesse ínterim teve mudança de integrantes. O que isso mudou na banda?

Jonathan: A pegada mudou pra caralho, a escola dos caras é diferente. São músicos diferentes, o Maurício tem uma bagagem muito grande de sons que eu gosto, que é o lance do grunge, dos anos 90, e o cara também curte George Clinton, Funkadelic, a parada toda. Então ele trouxe uma bagagem musical muito grande. E o Elias é um batera novo pra caramba, tem 21 anos e sabe socar bem o couro. Isso, na hora da química, no estúdio, veio muito a calhar e nós começamos a trocar figurinha com som, o que acabou tendo aquela coisa de abertura para poder compor junto, coisa que não tinha antes.

RG: Qual o significado do título do álbum?

Jonathan: Eu lembrei de uma vez que eu tive uma febre muito foda, de 40 graus, de estar convulsionando e falando bobagem, delirando. E pensei: “isso tem a ver com o disco”, tipo eu falando coisas guardadas e tal, e é um jeito de expurgar. No suor é que você bota pra fora as porcarias. Eu achei que ia cair bem colocar um título diferente, e por que não febre confessional? A galera vai perguntar por que, até então nunca tinha ouvido isso. Vi o que eles achavam, eles disseram que era estranho, e era para ser estranho mesmo. Essa é a parada, quando tu tá suando pra caralho, expurgando demônios e colocando as verdades para fora.

RG: Isso tem a ver com as letras das músicas?

Jonathan: Tem, porque a parte mais difícil para mim é compor. O tocar depois de feito é tranqüilo, por isso é que eu tenho uma dificuldade muito grande de compor com a galera, eu sou mais de compor sozinho do que em grupo. O momento mais crítico é quando eu tô compondo, falando as coisas, é o momento de cuidar o que eu vou falar, é ali que eu tô vulnerável, aberto mesmo. Já perguntaram se a minha vida é um livro aberto, e de certa forma é, mas o problema maior é quando eu tô sozinho compondo, depois tá tranqüilo. Tem muito a ver com as letras essa parada do título, que são as coisas que eu passei na real.

O  momento mais crítico é quando eu tô compondo, falando as coisas, é o momento de cuidar o que eu vou falar, é ali que eu tô vulnerável, aberto mesmo

O momento mais crítico é quando eu tô compondo, falando as coisas, é o momento de cuidar o que eu vou falar, é ali que eu tô vulnerável, aberto mesmo

RG: As letras são sobre relacionamentos. São todas experiências pessoais ou tem ficção também?

Jonathan: É a realidade pura. Tem coisa que você viaja um pouco, mas eu gosto de dizer que o relacionamento é em relação a mim mesmo, eu comigo mesmo, para tentar entender os meus conflitos, o que eu tô fazendo de errado. É mais crise existencial, e acho que esse é um caminho legal para poder mandar uma mensagem positiva para alguém tentar se encontrar. Se o cara sente isso também, isso é normal, é comum, ele não está perdido na multidão.

RG: As músicas do disco seguem dois caminhos: ou são lentas e mais pesadas, com uma interpretação vocal bem forte, ou são mais aceleradas. Vocês pensam nisso, em equilibrar as coisas, ou nem concordam com essa avaliação?

Jonathan: Até tem isso, mas na real nem sabemos o que estamos fazendo, é uma coisa que acaba rolando intuitivamente, porque nós vamos tocando, curtindo o que é, e nesse disco tem até bastante coisa rápida, se compararmos com os outros. Mas não fazemos isso de propósito, rolou por intuição, fomos fazer, acabamos juntando o repertório e ficou com isso mesmo.

RG: “Os Dias” é o single, e é uma das lentas também, foi por isso?

Jonathan: Estávamos conversando com a gravadora, porque tem bastante música para ser single no disco, e pensamos em colocar uma coisa um pouquinho mais densa para a galera. Achamos que “Os Dias” seria uma música densa o bastante para começar alguma coisa. Para mostrar: essa é a banda, falamos dessa forma, temos essa linguagem por enquanto, não sabemos que caminho vamos seguir depois. Então foi uma coisa em comum acordo com a gravadora, foi legal que eles nos deixaram à vontade para escolher o som.

RG: E o segundo single?

Jonathan: Não faço idéia, mas acredito que pode ser “Me Deixe em Paz”. “O Jantar” eu também penso pra caralho, seria legal que fosse. Essa é uma música totalmente diferente de tudo o que nós já fizemos, até por causa do vocal, o jeito que eu cantei e tudo mais.

RG: Muita banda faz sucesso no Sul, mas não avança para o resto do País, qual a estratégia de vocês para superar essa barreira?

Jonathan: Na real a única coisa é o lance de não ser tão bairrista na hora de colocar a letra. Nós nunca fomos bairristas, sempre buscamos uma linguagem que todo mundo pudesse entender, sem puxar para a terra, não colocar gírias locais. Fazer uma coisa cosmopolita, que pode ser ouvida tanto aqui como em qualquer outro lugar. Se isso servir como estratégia, é essa.

RG: Como está sendo a aceitação do disco?

Jonathan: Tá massa, ficamos sabendo que vendeu 8 mil cópias, que é a primeira tiragem, em quatro dias. Isso foi foda de ouvir porque estávamos meio apreensivos ainda, porque do jeito que o mercado anda… Esse é o terceiro disco, e tinha aquele medo de “como a galera vai encarar”, mas tá tranqüilo, porque a galera tá mandando e-mail pra caralho atrás da banda, para saber se vai ter DVD, se vai ter show com as músicas novas…

RG: Já estão em turnê?

Jonathan: Começamos no dia 8, fizemos o show do Blen Blen (casa noturna em São Paulo), foi legal, o público vibrou bastante, e agora vamos fazer um show hoje de noite em Floripa.

RG: Como você avalia a resposta do público na hora de fazer as músicas novas? Você leva em conta o gosto do público na hora de fazer uma ou outra música?

Jonathan: Não, mas isso incomoda bastante, porque tem aquela pressão externa, de a galera imaginar, “será que o pessoal vai gostar”? Mas quando começa a acontecer esse tipo de coisa eu paro de escrever na hora, daí já não serve para mim. Eu evito isso porque eu tenho que fazer aquilo que eu tô gostando, porque é aí que eu tô sendo verdadeiro. Senão, se eu fizer para pura e simplesmente vender o disco, aí eu vou estar sendo um mentiroso e salafrário.

RG: Tem gente que mistura isso um pouco e até dá certo…

Jonathan: Eu não consigo, eu tenho uma veia pop foda pra caralho, às vezes chega a ser nojento. Mas vem daí a mistura que rola, de ouvir um lance mais underground e daqui a pouco misturar com a veia pop. Eu me preocupo comigo mesmo, sou a minha preocupação maior.

RG: A sua voz tem um timbre muito parecido com outros vocalistas do grunge e do pós grunge. Isso foi preponderante na hora de decidir que tipo de música fazer ou acabou sendo uma contingência que levou tudo a dar certo?

Jonathan: Aí é que tá, eu só escuto aquilo que é parecido comigo… Nem tudo, mas as influências maiores, se você for analisar, são coisas onde eu posso cantar. Eu boto no carro, começo a cantar junto, é aquela coisa de curtir o som mesmo.

RG: Mas quando você nem pensava em ter banda ou mesmo cantar, o que você ouvia?

Jonathan: É muita coisa. Eu tinha Beatles, sempre gostei de Oasis pra caralho. Tem sempre um “quê” de Oasis nessa parada toda. Tem o Live, que o cara tem um timbre totalmente diferente. Os primeiros covers que nós tocávamos era do Live. E Legião pra caramba, eu comecei a cantar ouvindo o Renato Russo, a partir dali eu comecei a ter uma escola. Comparavam minha voz com a dele e eu comecei a receber convite para tocar em banda e foi indo… Pearl Jam, Nirvana, aquela coisa rasgada… Bush, Matchbox…

Se eu fizer música para pura e simplesmente vender o disco, aí eu vou estar sendo um mentiroso e salafrário

Se eu fizer música para pura e simplesmente vender o disco, aí eu vou estar sendo um mentiroso e salafrário

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado