Rock é Rock Mesmo

Às vezes é preciso advogar em favor do rock

Como na advocacia, no rock também existem artistas indefensáveis como um pênalti batido por Zico num Fla-Flu. Entenda o porquê.

Meus amigos, do jeito que as coisas são às vezes elas são difíceis. Falo de uma forma geral, mas ao mesmo tempo preciso ser específico, o que, por si só, já se apresenta como um paradoxo. Mas, como já dizia o Maluco da Praça, é nas contradições da juventude que reside a fonte da renovação humana. Não sei se era exatamente isso que o tal vidente falava – faz tempo que não vejo, aliás, mas era mais ou menos isso.

Não sei se é de conhecimento público, mas jamais cursei uma faculdade de direito. Por esta escola não passei nem na porta. Mas, volta e meia, me vejo no papel de um advogado de defesa, argumentando em favor de uma causa que não é a minha, mas que, no fim das contas, dada a intensidade que o debate atinge, parece até que é. Imagino que, no caso do amigo leitor, isso já deve ter acontecido também. Quem, que freqüenta este ou aquele círculo do rock, nunca teve que sair em defesa de uma determinada banda? Parece familiar, não?

Assim como na advocacia, no rock também existem casos e casos. Explico. Mesmo que a Constituição preveja que todo e qualquer cidadão tenha o direito de defesa, e que até o Estado possua defensores para aqueles que não tenham condição de arcar com os custos ou para os que, mesmo endinheirados, não consigam contratar um advogado, há situações em que, de antemão, o acusado já se encontra condenado, por uma espécie de conceito público. Por exemplo. A menina que matou os pais e que recentemente usou a Globo para amolecer o coração do público. Ela tem que ter o direito de defesa, mas pode fazer uma pesquisa que logo aparece condenada. E digo isso sem tomar partido de um ou outro lado, só para exemplificar mesmo.

E o rock? E o rock? Pergunta afoito o leitor, já invocado com esse blá blá blá. Pois eu digo que no rock há também causas indigestas a se defender. Por exemplo. Charlie Brown Jr. Os caras podem lançar o melhor álbum de rock em todos os tempos, com as melhores músicas do planeta, que ainda assim serão achincalhados pela crítica e pela parcela, digamos, mais intelectualizada do público – os “cools”. Se você pertence a uma dessas categorias – crítica ou “cools” em geral – e gostar de um ou outro disco do CBJ, estará, certamente, em apuros, a menos que se omita. Outro? CPM-22. Quem ousar defendê-lo longe do (enorme) metiê de seus fãs, vai entrar numa fria dos diabos. Pitty, então é quase unanimidade detoná-la. E enquanto isso os discos vendem feito água.

Citei esses artistas aí em cima porque, em algum momento fiz uma análise positiva da carreira deles, ou aqui ou em um dos veículos com os quais já colaborei, e não tenho vergonha de proclamar o óbvio, que, de tão óbvio cega muitos por aí afora. Esses artistas, juntos com tantos outros – e aí não quero entrar no mérito da qualidade de cada trabalho – sofrem preconceito por terem suas músicas veiculadas nas rádios. Todos por conta do jabá, é bem verdade, aparecerem na mídia, são famosos e às vezes até chatos, por conta de tanta exposição. As pessoas passam a detestá-los mais por isso, e muito menos por causa da música que fazem em si. Como se fosse impossível uma banda ser famosa e ser boa. Ou, ao contrário, só ter qualidade se não tocar em rádio. O artista que toca em rádio pode até ser horroroso, mas que apresentem os argumentos pertinentes ao conteúdo do trabalho deles, senão, não dá.

É verdade que a dobradinha qualidade/popularidade é difícil de ser atingida, mas uma análise não pode ser reducionista a esse ponto. E se, ao mesmo tempo, pegarmos um artista do meio independente, fora da grande mídia e adorado por crítica e “cools”, e perguntarmos para ele o que ele acha de ter o seu trabalho veiculado maciçamente em tudo o que e canto, sabe o que ele vai dizer? Ele vai adorar, porque assim vai vender mais discos, fazer mais shows e ganhar mais dinheiro, para poder saldar as dívidas com mais tranqüilidade e menos perrengue. Quando um artista como o Moptop, por exemplo, assina com uma grande gravadora como a Universal, todos gostam. A crítica elogia, e os “cools” também. Sabe por que? Porque com a Universal por trás a banda vai aparecer na mídia, a custa do jabá que todos queremos exterminar. Não há uma contradição nisso aí, não? Mais: se a banda emplacar e tocar em tudo o que é canto, essa mesma crítica e esses mesmos “cools” vão execrá-la, dizendo que tal disco já não é tão bom, etc. Podem anotar. E isso sem falar que quase todos os artistas brasileiros consolidados e com trabalho reconhecidamente de qualidade nesse país usufruíram do artifício do jabá, a começar pelo Ministro da Cultura. Como disse, não sou advogado, muito menos de bandas. Mas, vamos e venhamos, há algo culturalmente errado nisso tudo.

Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, não era isso que eu queria falar. Enrolei tanto lá no início que estou quase no final e ainda não entrei no assunto principal. Nessas horas lembro das pesquisas que dizem que os textos na Internet têm que ser curtos senão ninguém lê. Se for isso mesmo, estou frito com essa prolixidade muitas vezes mal identificada. Mas, repito, disse tudo isso para aqui fazer a defesa de uma banda praticamente indefensável como um pênalti batido por Zico num Fla-Flu. Uma, não, mais de uma. Por isso, vou pedir licença a vocês para me retirar e estudar o caso com mais afinco e resolver tudo na semana que vem. Não sou advogado nem jogador de futebol, mas também não posso entrar em campo despreparado.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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