O Homem Baile

Pazuzus mostra fôlego na surf music nacional

Grupo carioca traz referências de filmes de terror em apresentação teatral, mas convence mesmo pela qualidade das músicas.

Por pouco a segunda noite do Campeonato Mineiro de Surf não foi uma espécie de “off surf”. É que das três bandas que se apresentaram, duas fugiram do conceito que motiva a existência do festival. Fato, no entanto, que pouco afetou a participação intensa do público, que voltou a lotar o Bar Dançante A Obra.

Quem abriu os trabalhos foi o Mordeorabo, de Belo Horizonte, um quarteto de rock instrumental que definitivamente nada tem a ver com o surf music propriamente dita. Na banda há dois baixistas, guitarra e bateria, que por vezes soam experimentais, e noutras mostram referências latentes. A maior delas é o The Police, patrocinada pelo baterista Pedro, que imprime o ritmo da banda no que o trio inglês tem de melhor: o andamento pungente e o ritmo dançante. Os dois baixistas tocam a mesma coisa o tempo todo, o que significa que um deles é inteiramente dispensável. O ideal seria um deles assumir a guitarra e buscar variações mais contundentes. O melhor fica por conta do guitarrista Bruno, que capricha nos andamentos e faz solos que são retrato da habilidade musical da banda. Todos - é bom que se registre - tocam muito bem e, juntos, têm uma boa idéia nas mãos. O problema é que ainda não descobriram como desenvolvê-la.

Se tem uma banda que já tocou nas edições anteriores do Campeonato Mineiro, Caipirinhas é o seu nome. Nesse ano, o grupo veio com uma veia punk bastante fortalecida, o que resultou, pela primeira vez nessa edição, em aberturas de roda no meio do público, uma delas motivada pela vocalista Mônica, mais possessa que nunca. A banda parecia ter esquecido as referências oitentistas de outras épocas, e fez um clássico show de punk rock. Até “Caipisurf” foi tocada como exceção, numa homenagem ao festival, assim como o clássico ”Miserlou”, numa versão quase irreconhecível. O mais legal de ver o Caipirinhas ao vivo, além da participação do público local, que já conhece bem o grupo, é constatar como os integrantes se divertem no palco, como se aquele fosse o show da vida deles. Quer coisa mais rock’n’roll que isso?

Coube aos Pazuzus tirar o “off surf” da noite e incrementar um show divertido e de rara beleza instrumental. O oculto grupo carioca faz uma surf music na linha “do espaço”, cuja principal referência é o Man Or Astro-Man? – tocaram “Surf Terror”, dos americanos, e usam macacões como uniforme. Além do quarteto de instrumentistas, um personagem trajando um camiseta com o a frase “Coisa Ruim” faz as vezes de demônio, múmia e do próprio Pazuzu – espécie de demônio mitológico – além de cantar em uma música. É ele também que “dá o play” em efeitos e falações pré-gravadas entre as músicas, e se joga no meio do público, o que resultou na abertura de rodas em todo o set. Essa alegoria bizarra e divertida, entretanto, é só um detalhe na música d’Os Pazuzus. O forte deles são as melodias bem sacadas e músicas que, mesmo instrumentais, carregam um excelente apelo pop. Exemplos disso são “There’s a Pazuzu In My Garage” e “Os Olhos Sangrentos da Mãe Madri”, que estão, de longe, entre as melhores composições de surf music já feitas no Brasil. Os títulos, por sua vez, escancaram as referências aos filmes b e batem com a performance do “animador” da banda. Uma versão para “Walk Don’t Run”, dos Ventures, garantiu um encerramento a altura das melhores noites do Campeonato.

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