No Mundo do Rock

Edguy mantém renovação e foge do lugar comum do metal melódico

“Rocket Ride” é o terceiro disco em que a banda alemã busca novas referências para moldar uma sonoridade pouco óbvia no gênero. Hard rock e peso setentista estão entre as novas fontes. Fotos: Divulgação/Nuclear Blast.

Dirk Sauer (guitarra), Tobias Sammet (vocal), Jens Ludwig (guitarra), Felix Bohnke (bateria) e Tobias Exxel (baixo): eles parecem ou não uma banda de hard rock?

Dirk Sauer (guitarra), Tobias Sammet (vocal), Jens Ludwig (guitarra), Felix Bohnke (bateria) e Tobias Exxel (baixo): eles parecem ou não uma banda de hard rock?

Nos últimos anos as bandas que trilharam o caminho do heavy metal melódico caíram invariavelmente no beco sem saída da repetição. Poucas escaparam do exagero do formato – vocais ultraagudos e delírios de guitarra – e produziram algo criativo em termos de conteúdo. A grande exceção vem da mesma Alemanha que nos anos 80 foi berço do gênero, com o Edguy. Depois de quatro álbuns rezando na cartilha, desde 2001, com o bom “Mandrake”, o quinteto vem se superando a cada disco, sempre buscando por renovação, embora nunca tenha largado as raízes do metal oitentista.

Seja flertando com o hard rock ou com rock pesado dos anos 70, o fato é que o Edguy tem construído uma sonoridade que hoje lhe é própria. Tudo começou depois que o garoto prodígio Tobias Sammet, compositor de boa parte do repertório do grupo, lançou por conta própria dois discos sob o nome Avantasia, um projeto grandiloquente do metal melódico que teve a participação de vários figurões do meio. Os discos do Avantasia acabaram gerando uma onda de projetos semelhantes com ecos até no Brasil, mas nada que fosse relevante. De volta ao Edguy, Tobias conduziu a banda ao clássico “Mandrake” (2001), e depois “Hellfire Club” (2004), que se mostrou aberto a novas referências e conquistou um público muito maior e mais diverso que antes, levando a banda a bem sucedidas turnês por todo o mundo.

Agora é a vez de “Rocket Ride”, o sétimo disco da carreira deles, e que mantém a orientação renovadora dos anteriores. O guitarrista Dirk Sauer conversou com o Rock em Geral, e mesmo sem conseguir dizer exatamente como essas mudanças têm acontecido, se mostrou bem satisfeito com o resultado. Ele comentou também algumas músicas, citou referências pessoais e explicou, afinal, que significado tem o nome Edguy. Dá uma olhada:

Rock em Geral: Diga o que você achou do “Rocket Ride”, depois de pronto:

Dirk Sauer: Estamos muito felizes e orgulhosos desse disco. Eu pessoalmente estou muito feliz porque colocamos muita coisa nova nele, especialmente os trabalhos de guitarra. Eu diria que em termos de produção é o nosso melhor disco, porque nunca fizemos uma coisa tão precisa em nenhum dos outros álbuns. Por isso estamos satisfeitos com ele. O disco está indo bem nas paradas da Alemanha, Suécia e em toda a Europa, o que mostra que todo mundo está interessado em nossa música, e isso nos deixa ainda mais satisfeitos.

RG: Pelo jeito você acha que esse é o melhor disco da carreira do Edguy…

Dirk: Todo mundo fala isso quando lança um disco, e eu diria que é, sim, porque é o disco mais diversificado do Edguy. Mostra a banda em todos os ângulos possíveis, e, como disse antes, a produção é sem dúvida a melhor de todas.

RG: Você disse que o disco é diversificado, que tipo de novidades você destacaria?

Dirk: Há uns elementos modernos, que nunca havíamos trabalhado antes, como, por exemplo, em “Matrix”, e coisas em que avançamos um pouco. Tentamos colocar mais elementos do rock’n’roll dessa vez. Fizemos coisas como optar por fazer uma gravação ao vivo no estúdio, que deixa o som mais orgânico, não tão limpo como antes, mas muito atualizado, porque toda a produção tem que ser bem clara. Tentamos deixar tudo mais “humanizado”, com mais groove, mais feeling. Acho que fizemos um bom trabalho.

RG: Essa é a segunda vez que vocês lançam um EP (“Superheroes”) antes do disco de carreira, em geral faz-se o contrário. Como definiram essa estratégia?

Dirk: Não é uma novidade, é basicamente a velha estratégia das gravadoras, de lançar um single antes do disco, que é bem ok para promover e tal. Mas como fizemos da última vez, pensamos que só um single normal como outras bandas costumam fazer é uma coisa chata para os fãs e às vezes um tipo de exploração. Então pensamos: “podemos fazer isso, mas poderia ser como um grande aperitivo para o disco”, e decidimos por um EP de novo, que é basicamente metade de um disco inteiro. É uma boa forma de fazer as pessoas terem algo antes do álbum sair, sentir como o novo disco será, e foi um grande sucesso também, o que mostra que foi uma boa decisão fazer logo um EP ao invés de só um single.

RG: Tem muitas músicas grandes nesse disco, como “Sacrifice” e “The Asylum”. Vocês planejam de antemão colocar músicas desse tamanho, ou elas é que vão crescendo durante o processo de composição e gravação?

Dirk: Isso aconteceu durante o processo de composição, e também já fizemos esse tipo de coisa em praticamente todos os nossos discos. No “Theater Of Salvation” e no “Kingdown Of Madness” há músicas longas, não há uma razão específica para se fazer músicas assim, elas é que surgem desse jeito.

RG: Em muitas músicas no “Rocket Ride” dá para se lembrar no rock pesado dos anos 70. Você concorda, isso foi uma referência forte nesse disco?

Dirk: Eu acho que os anos 70 são sempre a inspiração para toda a música que se faz nos dias de hoje, porque é o básico. Eu adoro música dos anos 70 e 80.

RG: Mas há os anos 50 e 60 também…

Dirk: Claro, os Beatles fizeram todas as boas melodias… Eu diria que gosto do estilo de música dos anos 80 e 70, foi a partir dali que eu fiz o meu gosto musical. Para falar a verdade, estou mais interessado na música feita nessas épocas do que na que se faz atualmente.

RG: De outro lado a música “Wasted Time” tem um riff que parece vir dos tempos do power metal. Podemos encarar o Edguy de hoje como uma mistura do peso dos anos 70 com o metal melódico dos 80?

Dirk: Eu acho que esses elementos já estão no disco anterior, isso é o básico que você pode ouvir em qualquer artista, porque esse tipo de música foi criada nos anos 70. Eu acho que é, sim, uma mistura disso tudo, mas com um olhar particular do estilo do Edguy. Pode soar talvez um pouco músicas dos anos 80, por exemplo, mas boa parte das músicas nem são tão boas como eram as originais…

RG: No início o Edguy era uma típica banda de metal melódico e hoje muita coisa mudou…

Dirk: É verdade, claro que o novo disco soa um pouco diferente dos demais. Eu acho que é só o desenvolvimento natural da banda. Podemos realmente só fazer o que queremos, arriscar o que achamos que pode dar certo, e foi o que fizemos de novo dessa vez. Foi o feeling de fazer isso, conversamos antes de iniciar o álbum, fizemos muitas turnês, a ponto de não agüentar mais, então a banda estava muito cansada, e decidimos ir para um estúdio de ensaio, tentando, sei lá, só captar o feeling “ao vivo”. Talvez por isso tenha muito de rock’n’roll no meio.

Estou mais interessado na música feita nessas épocas do que na que se faz atualmente

Estou mais interessado na música feita nessas épocas do que na que se faz atualmente

RG: Em geral as bandas de metal melódico estão sempre se repetindo, o que não é o caso de vocês…

Dirk: Não faz o menor sentido fazer o mesmo disco, um atrás do outro, é uma coisa chata. Se você compra um dos discos, já tem tudo.

RG: Qual o segredo para deixar de lado o metal melódico, coisa que em geral essas bandas não conseguem?

Dirk: Na verdade nem pensamos nisso. Só fazemos o que sentimos que devemos fazer e vamos em frente. Por isso o próximo álbum pode ser completamente diferente, ninguém pode saber. Desde que a música seja boa, e o som seja bom, eu não vejo nenhum problema. Isso significa que nós podemos ficar totalmente à parte do que faz a maioria, porque é a nossa música, é o que queremos fazer, e é o que fazemos.

RG: A música “Fucking With Fire” soa como um clássico do hard rock, vocês são fãs de hard rock?

Dirk: Sim, é verdade, e foi engraçado, porque essa música foi planejada mais uma vez como uma faixa bônus, como aconteceu com a “Lavatory Love Machine”, no “Helfire Club”. Mas logo descobrimos que era bem divertido tocá-la, percebemos que ela funcionava bem e que deveria estar no álbum. Tocamos essa música ao vivo na turnê, e as pessoas gostaram muito dela, principalmente nos Estados Unidos. Muitas revistas de lá simplesmente adoraram e elogiaram essa música.

RG: Mas de que tipo de hard rock vocês gostam?

Dirk: Tem muita coisa legal, algumas bandas legais agora, mas isso é mais dos anos 80, a galera das antigas, Poison, Mötley Crüe, esse tipo de coisa.

RG: Como vocês fizeram a música “Catch Of The Century”, que tem uma levada realmente cativante?

Dirk: Essa música é também minha favorita no álbum. O refrão é sensacional, simplesmente perfeito. Não me pergunte, essa música simplesmente nasceu para ser uma grande música.

RG: Depois do disco “Mandrake” a carreira do Edguy mudou muito. Você acha que o fato de o Tobias ter deixado a banda por um momento para se dedicar ao projeto Avantasia contribuiu para isso?

Dirk: Não, eu não diria isso. Como eu disse antes, como banda o Edguy está fazendo 15 anos, e eu acho que é um desenvolvimento normal e natural, você ganha mais experiência em estúdio. Você não se cansa do que fazia antes, mas sempre quer fazer algo a mais, ou algo novo. Eu não sei, fizemos sempre o que quisemos fazer, e isso se transformou numa coisa muito boa. Eu sou agradecido porque fomos capazes de fazer isso e as pessoas gostam desse jeito. Sempre fizemos o que queríamos, então quando você diz que no “Mandrake” as coisas começaram a mudar um pouco, eu acho que muitas coisas mudaram no “Mandrake”, sim, mas continuaram a mudar no “Helfire Club” e agora no “Rocket Ride”, e isso é fruto de um desenvolvimento natural da música do Edguy. Ainda carregamos todas as nossas marcas clássicas desde quando começamos, mas não podemos fazer a mesma coisa o tempo todo.

RG: Vocês pensam assim: “vamos fazer um álbum diferente dos anteriores”, antes de começar a preparar o material?

Dirk: Não, começamos com as músicas que temos já adiantadas. Acho que a única coisa que realmente mudou dessa vez foi que escolhemos outro estúdio para gravar o disco. Todos os discos anteriores haviam sido gravados na nossa cidade natal, em Fulda (no meio oeste alemão), e começamos a gravar a bateria do “Hellfire Club” em outro lugar, e foi assim que nos encontramos com Sascha Paeth pela primeira vez. Dissemos que deveríamos fazer uma nova forma de produção, e foi por isso que pegamos o Sascha como produtor, engenheiro e tudo o mais, tudo foi feito no estúdio dele. Acho que foi uma boa decisão, não porque seria uma coisa chata fazer o trabalho no mesmo estúdio de novo, mas às vezes você precisa de algo diferente. Acho que é bom para nos inspirar, trabalhar às vezes com novas pessoas ou num novo estúdio, com novos equipamentos. Tudo isso acaba resultando em criar uma inspiração diferente.

RG: O que você acha do Avantasia? Teremos uma terceira parte?

Dirk: Eu sei que não haverá uma terceira parte, porque a história acabou, e estamos muito ocupados com o Edguy agora. Eu não tenho certeza, na verdade. Eu adorei os dois discos, é muito legal ter todos esses músicos e vocalistas juntos no mesmo disco, especialmente gente como Michael Kiske (vocalista da fase clássica do Helloween), por exemplo. As músicas são boas, eu gosto muito.

RG: Vocês fizeram 20 shows no Estados Unidos e Canadá no ano passado. Como foram esses shows? Por que é difícil para uma banda do metal europeu se dar bem nos Estados Unidos?

Dirk: Toda a música andou estranha nos últimos anos, mas as coisas estão mudando de novo. O problema principal é que é muito caro ir pra lá, especialmente depois do 11 de setembro. Há sempre problemas para conseguir vistos de trabalho, para arranjar vôos, e o país é realmente muito grande, sei lá quantos quilômetros nós dirigimos por lá. Comparando com a Europa é simplesmente gigante. Fizemos uma turnê com o Hammerfall, as coisas foram bem, funcionou bem, tivemos grandes shows, foi bom estar lá com o Hammerfall, porque nos conhecemos há muito tempo. Eu adorei essas cinco semanas, e queremos voltar de novo, o quanto antes.

RG: E o público, era bom?

Dirk: Diferente… Num lugar eram 5 mil pessoas, em outros pequenos shows, no meio do nada, em algum lugar que eu não sei o nome… Mas ok, sem problemas. As coisas são muito espalhadas por lá, tinha pessoas que viajavam por mais de 2500 quilômetros só para ver um show, porque era o mais perto que eles tinham. Esperamos fazer logo isso de novo, mas talvez fazendo mais datas. No ano passado foi no final do ano, vamos ver esse ano. O plano é tocar na América do Sul e nos Estados Unidos também.

RG: Para terminar, o que o nome Edguy significa?

Dirk: Nada, para ser sintético… Esse nome foi criado quando montamos a banda, éramos uma banda de escola e foi criado a partir do nome de um professor, chamado Edgar. Estávamos buscando um nome, queríamos algo que não existisse, e com medo de encontrar uma outra banda com o mesmo nome. Gostamos do nome “Worldguy”, mas não ficamos satisfeitos com ele, então mudamos para Edguy… E essa é a história, bem chata por sinal…

Ainda carregamos todas as nossas marcas clássicas desde quando começamos, mas não podemos fazer a mesma coisa o tempo todo

Ainda carregamos todas as nossas marcas clássicas desde quando começamos, mas não podemos fazer a mesma coisa o tempo todo

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