No Mundo do Rock

Cria da Internet, Forfun chega ao mercado sob a chancela de Liminha

Segundo disco do grupo de hardcore juvenil marca a estréia do selo Supermusic, criado pelo produtor que moldou o rock dos anos 80. Fotos: Marcio Isensee/Divulgação.

Nicolas, Danilo, Victor e Rodrigo: a banda que começou só "for fun"

Nicolas, Danilo, Victor e Rodrigo: a banda que começou só "for fun"

Não é de hoje que verdadeiras multidões de adolescentes se aglomeram na zona sul carioca para ver o show de uma banda que toca só por diversão e que, por isso mesmo, leva o nome de Forfun. Os rapazes saíram da Tijuca, são filhos da geração do hardcore melódico e do poppy punk que fez sucesso nos anos 90 e decidiram colocar o dia a dia deles nas letras, onde gírias e palavrões expressam o sentimento de uma turma que não pára de aumentar.

Danilo (voz e guitarra) e Victor (guitarra) começaram a banda com um outro amigo de longa data que cedeu lugar a Nicolas (bateria), também da mesma turma. Em 2003, Rodrigo (baixo) entrou e consolidou a formação que dura até hoje. Duas demos caseiras foram lançadas em 2002, e no ano seguinte o disco de estréia, “Das Pistas de Skate as Pistas de Dança”, foi lançado pela própria banda em parceria com a gravadora Dry Eyes, que deu uma força na distribuição. Entretanto, a grande sacada do Forfun não estava nesse procedimento tradicional de lançar discos, mas nos tentáculos do mundo virtual. O grupo sempre fazia muitos shows, filmava as apresentações, editava os vídeos com a ajuda de familiares e disponibilizava na Internet. Assim o público cresceu de forma exponencial, transformando os shows em grandes acontecimentos.

Um CD de divulgação com muitos desses vídeos, onde o público canta todas as músicas de cor e salteado, foi parar nas mãos de Liminha, o produtor que deu cara ao rock dos anos 80, que estava querendo inaugurar sua própria gravadora. Assim nasceu o selo Supermusic, cujo primeiro lançamento é “Teoria Dinâmica Gastativa”. Nessa entrevista o baixista Rodrigo – que deixou duas faculdades pelo rock - detalha melhor essa história, mostrando que a banda não vive só de diversão, não, mas tem quatro cabeças pensantes e interessadas em suas carreiras dentro da música.

Rock em Geral: Como vocês escolheram esse nome?

Rodrigo: Na verdade “for fun” era um grupo que o Victor e o Danilo tinham, uma galera que pegava onda junto, que se chamava assim, a galera “for fun” do body boarding. Quando eles fizeram a banda, a intenção era tocar mais para os amigos. Quando se começa a intenção de todo mundo é sempre bem mais simples, dar uma “gastada” com a galera. Então eles adotaram o mesmo nome, já que a galera é “for fun” a banda vai ser Forfun também.

RG: O disco independente vendeu bem?

Rodrigo: Vendeu, primeiro fizemos 1000 cópias, que acabaram rapidinho. Aí fizemos mais 1000 que também já acabaram. Foi esse CD e um outro que nós gravamos nos shows, com imagens que a gente faz, que caiu na mão do Liminha. Através de um amigo nosso ele conseguiu esse material e gostou, principalmente desse CD com os vídeos. Tinha a gente tocando em algumas cidades do Brasil. Tínhamos o costume de filmar e editar, durante as viagens. Fazíamos a edição direitinho e botávamos pra galera baixar na Internet.

RG: O que você citaria como uma boa referência na música do Forfun?

Rodrigo: Temos ouvido bastante coisa que até difere do nosso som. No começo ouvíamos muito punk rock californiano, não tinha muita influência de coisa nacional, porque não tinha muitas bandas que tocavam esse tipo de som – hoje em dia isso já se proliferou. Em 2002, 2003, o que nós ouvíamos mais era Blink 182, Offspring, NOFX, Bad Religion, essas coisas de fora. Charlie Brown Jr. nós sempre ouvimos, é uma banda que a sempre gostamos, Los Hermanos também, até hoje. Apesar de ser totalmente diferente do som que nós fazemos, temos ouvido bastante Rappa, Mombojó, Cachorro Grande.

RG: Vocês se consideram uma banda de hardcore?

Rodrigo: É mais ou menos por esse caminho, mas a não somos “hardcorezão”. Se você for comparar o Forfun com o Dead Fish, eles são muito mais hardcore que a gente, as músicas se limitam, a maioria, ao hardcore. A nossa, não, tem muitas levadas mais cadenciadas, aquela coisa mais “quebrada”.

RG: Vocês têm noção de quantos shows fazem por ano?

Rodrigo: Nunca contabilizamos. O ano passado foi o melhor ano de shows, mas esse tá ficando melhor ainda, temos feito bastante shows, basicamente todo final de semana.

RG: Como foi trabalhar com o Liminha?

Rodrigo: Logo que chegamos tinha aquela apreensão: “caralho, Liminha, um estúdio grande pra caramba, vários discos de ouro na parede, que ‘responsa’…”. Mas depois não, foi tranqüilo, ele mesmo se encarregou de nos deixar bem à vontade, deu liberdade total para criar, fazer um disco com a nossa cara. E só dando aquele toque, aquela supervisão. Tínhamos uma dúvida e perguntávamos para ele o que ele achava que ficaria melhor. Mas ele deu liberdade total e nos deixou muito à vontade.

A Internet é o meio mais democrático de todos, você entra e ouve o que quer, vê o que quer, tem opção a dar com o pau

A Internet é o meio mais democrático de todos, você entra e ouve o que quer, vê o que quer, tem opção a dar com o pau

RG: Vocês fizeram muitos fãs através da Internet. Como sair desse mundo virtual para conseguir um público ainda maior?

Rodrigo: Hoje em dia a Internet é o meio mais democrático de todos, você entra e ouve o que quer, vê o que quer, tem opção a dar com o pau. Mas realmente é um passo adiante, sair da Internet, porque infelizmente nem todo mundo tem acesso. Principalmente a galera de classe mais baixa, hoje em dia, se você quiser atingir, é bom ter uma cobertura de rádio e televisão. Estamos indo bem passo a passo nesse sentido, de entrar nesses outros meios de comunicação, mas sempre com cautela porque também é perigoso, porque isso envolve muitos interesses.

RG: O fato de ter bandas como CPM 22 e Dead Fish tocando em rádio fica mais fácil para vocês conquistarem espaço?

Rodrigo: Certamente… Não que seja a mesma galera que ouve, mas só de você estar sendo veiculado aí, esse estilo de som já estar no rádio já é uma coisa muito boa. Assim como veio o Dead Fish primeiro, depois teve o Dibob, agora tá vindo a gente, com certeza nós também vamos abrir muita porta pra quem vem depois. Acho que é por aí, vai chegando e puxando quem vem atrás.

RG: Isso pesou na hora de o Liminha escolher vocês, fora o lance da música em si?

Rodrigo: Eu não sei, acho que o que ele se impressionou mais mesmo foi com a resposta do público. Se fosse outro tipo de som, de repente ele se interessaria da mesma maneira, com aquela resposta, todo mundo cantando tudo.

RG: Vocês planejam onde encaixar os palavrões das letras?

Rodrigo: Entra muito naturalmente, porque hoje em dia isso faz parte da linguagem de qualquer um. Antes ficávamos mais cautelosos, mas hoje não achamos mais necessário. Quando gravamos o disco anterior, ficamos na dúvida se colocávamos ou não os palavrões. A galera era bem mais nova, uns três, quatro anos, porque sua cabeça muda muito, principalmente nessa faixa, de 17 pra 21. Mas hoje se faz muito necessário, tem coisa que você só consegue atingir com aquele palavrão. Encaixado da maneira certa - não é usar gratuitamente uma porrada de palavrão - um ou outro onde aquilo simbolize bem o que você quer dizer.

RG: Tem muitos trechos de letra que citam costumes cariocas. Vocês não têm medo de isso dar uma cara tão carioca a ponto de gerar uma implicância em pessoas de outros lugares?

Rodrigo: Eu acho que não, estamos tentando até maneirar, para não ficar explicitando tanto isso, porque pessoas de outros estados vão ouvir e de repente não vão se identificar tanto, por ser uma coisa estritamente regional. Nem achamos isso uma coisa legal. Mas o que nós colocamos é sincero mesmo, faz parte do dia a dia da gente. Porque se quisermos passar o que sentimos mesmo, com toda a sinceridade, isso cabe muito bem. Mas tentamos não puxar para o lado do orgulho disso, de ser carioca, não tem esse tipo de barreira. Colocamos porque é uma coisa sincera, é o que vivemos, o que gostamos de fazer. Não tem esse negócio de bairrismo, não.

Tecla SAP
ENTENDA O QUE DIZEM OS RAPAZES DO FORFUN E FALE COMO ELES
Por Rodrigo

A fila tem que andar: as coisas têm que ir pra frente;

A massa tá no brilho: uma galera com aquele espírito que todo mundo tá quando sai para se divertir, aquele clima de prever uma coisa boa;

Chegou na sua melhor amiga: chegar é tipo quando você vai dar em cima da mulherzinha; um cara que foi em cima da melhor amiga da namorada, nesse caso;

Gastação: é aproveitar, curtir, essa gíria é bastante usada no Rio, com muitos fins. Tem “gastar onda”, que é dar uma relaxada. “Gastar onda no céu” é ficar ali sentado, admirando o céu. E tem gastar no sentido de zoar, “dar uma gastada nele” é zoar o cara;

Gastando ao som do Bob: ficar de bobeira curtindo Bob Marley;

Já tô legal: seria um “já basta”, já tô cansado;

Lançar mais uma tatoo: é fazer mais uma tatuagem;

Mulherzinha doidona dando pala: “dar pala” é difícil de explicar… É pagar mico, meio uma forçação de barra. É tipo aquelas garotinhas querendo parecer o que não são. É tentar ser alguma coisa que você não é, e todo mundo percebe isso;

Acho que o Liminha se impressionou com a resposta do público

Acho que o Liminha se impressionou com a resposta do público

Playboyzada enchendo o cu de bala: isso é o que tem rolado hoje em dia. “Bala” é o ecstasy, a playboyzada tem perdido a linha, achando que essa parada sintética é brincadeira e tem comido que nem bala e chiclete;

Só de rolé: de bobeira, de gastação, vai passando ali;

Só pela saco e cuzão: pela saco é o babaca, e cuzão é cuzão mesmo.

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