Fazendo História

Abençoado pelo grunge

Fenômeno no sul do Brasil com mais de 200 mil cópias vendidas em dois discos, o Reação em Cadeia assume a forte influência do movimento de Seattle e se pepara para apontar as guitarras para o sudeste. Publicado na Laboratório Pop número 7, de setembro de 2005.

reacaoNão tem jeito. Quem é fã do grunge que nasceu na frienta Seattle e dominou o mundo tem que se posicionar. É Nirvana ou Pearl Jam. O gaúcho Jonathan Corrêa não teve dúvidas, ficou com a segunda opção, e hoje é o frontman do Reação Em Cadeia, grupo de Novo Hamburgo que vem abocanhando uma boa fatia do mercado do rock nacional, e já é um grande sucesso no sul do País. Ou talvez até mais do que isso, se consideramos a quantidade de fãs que prestigiou a banda na última edição do Porão Do Rock, em Brasília, numa noite em que as atrações principais eram Los Hermanos, Pato Fu e Barão Vermelho.

Fixada em tendências que privilegiam a música indie ou “a nova sensação” do rock, a mídia segmentada, no Brasil, pode até virar as costas para o grande sucesso que as bandas do chamado pós grunge têm no mercado americano. Mas que ele existe é fato, as rádios gostam e é por aí que os gaúchos cercam a sua música. “Quando nós começamos, no primeiro disco, tava rolando aquela ascensão do Creed, e acharam muito parecido”, conta Jonathan à reportagem da Laboratório Pop. “Só que eu ouvia Matchbox Twenty, Pearl Jam, muito Metallica e Bush. Mas o lance mais legal que a gente ouvia era o Stone Temple Pilots”, completa, justificando o cover para “Dead and bloated”, apresentado no show de Brasília. Ou seja, mais um caso em que a fonte foi a mesma dos contemporâneos lá de fora, em que pese o timbre de voz de Jonathan, característico de bandas como Nickelback, Puddle Of Mudd, Seether e adjacências.

O guitarrista e vocalista faz questão de dizer que o Reação é uma banda dos anos 90, mas foi no finalzinho de 99 que ele, Daniel Jeffman (guitarra), Márcio Abreu (baixo) e Nico Ventre (bateria) montaram o grupo, que inicialmente cantaria em inglês. “Tinha uma música nossa chamada ‘Reação em cadeia’, que fez a banda ficar um pouco conhecida na região em que a gente tocava, daí veio a idéia de colocar esse nome”, conta Jonathan, que compõe todas as músicas. Quando o primeiro disco, “Neural”, de 2002, chegou às lojas, pelo selo independente Antídoto, “Me odeie” já era uma espécie de hit local. “Tinha uma filial de uma rádio grande instalada em Novo Hamburgo, e começou a rolar. Depois venderam a rádio, mas a música era pedida nas outras de maior potência. ‘Me Odeie’ foi a música que ‘virou’ a banda”, conta o vocalista. E o videoclipe dela levou o grupo a ficar entre os cinco primeiros colocados do Prêmio Multishow, na categoria “Revelação”. Com tudo isso, “Neural”, estima-se, superou as 110 mil cópias vendidas, um feito e tanto para o primeiro disco de uma banda independente. No mesmo ano, o produtor Rafael Ramos, da Deckdisc, passava pelo sul do país e foi checar o tradicional festival Planeta Atlântida. “Fui dar uma olhada no palco 2 e vi o Reação Em Cadeia, um fenômeno, uma multidão de gente cantando junto todas as músicas”, conta o produtor. Lá ele iniciou um namoro que acabaria com a contratação da banda.

Para a gravação do segundo disco, “Resto”, lançado no ano passado, o clima não estava muito bom, e o trabalho acabou sendo finalizado com um racha na banda: entraram Maurício Faria (baixo) e Elias Frank (bateria). O fato não impediu que a trajetória de sucesso continuasse, como o próprio nome da banda sugere, e novos hits tomaram de assalto as rádios gaúchas. “Hoje a galera tá pedindo bastante ‘Quase amor”. Eu tô curtindo o disco por inteiro, mas no sul tocaram ‘Estou melhor’, ‘Segredo’, ‘Voltar’, ‘Tanto faz’ e ‘Nunca me deixe só’, para a qual gravamos um clipe agora”, enumera Jonathan. Dessas, “Segredo” ganhou uma versão em espanhol, por conta do sucesso que ultrapassou as fronteiras do País. Quando a banda foi tocar num festival em Córdoba, na Argentina, junto com o Sepultura, a receptividade foi espantosa. E vale citar também “Nunca me deixe só”, música forte cuja letra homenageia Kurt Cobain, e que, no final, chega a reproduzir gritos de “Smell like teen spirit”, o maior hit do Nirvana. Mas, ora bolas, Jonathan não é do lado do Pearl Jam? “Eu curto Nirvana pela história e tudo o que eles fizeram para a música, mas o cara (Cobain) não é o meu maior ídolo. Eu li a biografia há pouco tempo (‘Mais pesado que o céu’), e aquilo foi muito bom pra mim, tirei muitos exemplos do que não fazer nessas circunstâncias”, explica o compositor, não sem antes fazer a ressalva: “Sou mais Foo Figthers”. Tantos hits radiofônicos fizeram “Resto” vender cerca de 80 mil cópias, até o fechamento desta edição.

A discografia da banda ainda se completa com um álbum acústico, gravado num projeto bancado pela rádio Atlântida, junto com outras bandas gaúchas, e que saiu encartado na revista da própria rádio, em 2003. Como hoje a publicação já não existe mais, o disco tornou-se objeto de desejo para os fãs, uma vez que os 16 mil exemplares já têm dono. O próximo trabalho começa a ser gravado em setembro, no estúdio Tambor, com a produção de Rafael Ramos. Para o produtor, o Reação Em Cadeia “é uma banda com um grande potencial comercial. O Jonathan tem o poder de escrever músicas muito legais e que falam de amor e de coisas da juventude”. Rafael garante que o som vai ser na mesma linha dos outros. “Vai ter umas referências que eu já tô indicando para eles escutarem, e eu vou cuidar bem da voz e de alguns detalhes para que eles não fiquem identificados com o sul, vamos nacionalizar a banda”, explica o produtor. O disco, ainda sem título, deve ser lançado no primeiro semestre de 2006.

Vai ser o primeiro trabalho com a nova formação. “A entrada deles mudou a sonoridade da banda. O material tá mais pesado, tem uma pegada mais forte, os timbres são mais aguçados e tal. E eu estou voltando a escutar coisas que eu não ouvia há muito tempo”, garante Jonathan, com a experiência de quem já tocou muito, em palcos perfeitos como o do Porão do Rock, e noutros nem tanto. Daí o vocalista não se deslumbrar com o sucesso conquistado até agora e com o que está por vir. “A gente tá indo aos pouquinhos. Pegamos uma estrada muito foda, então aprendemos muita coisa. Tocamos em mega eventos e em lugares em que não tinha nem retorno no palco. Isso faz com que a gente não se importe com nada. É por tocar, não por estrelismo”, conclui.

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