Fim do Sepultura: um erro histórico
Matéria que opinava sobre a saída de Max Cavalera do Sepultura, fato na época tratado como o fim da banda. Como se sabe, o Sepultura continuou com outro vocalista e Max montou o Soulfly para chamar de seu. Publicado na Rock Press no início de 1997.
Depois de atingir um sucesso reconhecido em todo o mundo e de uma estonteante turnê pelo Brasil, é anunciado por toda a imprensa mundial o fim do Sepultura. Ou a sua separação, nem a própria banda soube definir. O estopim de tudo seria o descontentamento de Andreas, Igor e Paulo com o trabalho de Glória Cavalera, há sete nos empresária da banda, e esposa de Max. Em resumo, os três “dissidentes” reclamam o direito de aparecer mais, e acham que Glória privilegia Max ao promover o Sepultura.
O fato é que uma banda reconhecida no cenário pop mundial não é apenas uma banda, mas uma empresa com profissionais remunerados que cuidam de tudo: assessoria de imprensa, divulgação, infra-estrutura de palco, a condução de um empresário e a remuneração dos próprios músicos. Só que esses últimos não são profissionais comuns, são os protagonistas do espetáculo e dos negócios. E foi no âmbito dos negócios que a “Sepultribe” fracassou.
Há muito se falava nos bastidores que existiam problemas que, mais cedo ou mais tarde, levariam o grupo ao fim (em novembro um dos roadies me falava sobre o assunto), mas ninguém esperava que fosse tão cedo. E logo um momento em que estava para se aproximar de um apogeu criativo compartilhado com um reconhecido sucesso, difícil de ser obtido dentro da cena rock em todo o mundo. Poucas vezes se conseguiu unir criatividade, originalidade e popularidade sem soar comercial ou vendido, palavras condenadas dentro desse universo. E tudo isso dando-se um passo à frente dentro de um dos estilos mais retrógrados dentro do rock – o heavy metal, justamente quando boa parte da crítica e até algumas bandas já o considerava fadado a acabar.
O episódio retrata, na verdade, a falta de comprometimento das bandas de rock com sua própria trajetória. A maioria dos front-man do rock prega idéias e atitudes sem levar em conta o que isso pode significar para o mais modesto fã. É óbvio que não é o fã que vai decidir o futuro de uma banda como o Sepultura, ainda mais na insustentável situação em que se encontra. Mas, por outro lado, a decisão de terminar com ela a essa altura do campeonato representa um erro histórico e incontornável para a própria história do rock. Talvez só Max & (ex) companhia não tenham percebido o passo que estariam por dar, e o passo para trás que estarão dando com essa separação.
Max sem o Sepultura deverá priorizar seu trabalho com o Nailbomb, mas terá muito o que fazer para almejar algum espaço no difícil mercado americano, atém de ter que arranjar outro guitarrista, já que assumiu não conseguir se ver tocando com Andreas, que também participava do projeto. Andreas, por sua vez, ao assumir os vocais da banda – na remota hipótese de continuar usando o nome Sepultura, já que ele pertence à Max -, terá de optar por dois caminhos. Se obtiver sucesso nos vocais, terá de arrumar um guitarrista solo; se não, o que é mais provável, terá de recrutar outro vocalista, tarefa ainda mais complicada.
Mas, até agora, a Roadrunner, gravadora da banda, não se manifestou sobre o assunto. E dependendo de sua posição, e da falta de maturidade demonstrada pelos experientes músicos do grupo, que a qualquer momento podem recuar e voltar atrás, toda essa história pode não dar em nada. Pode ser que os integrantes do Sepultura superem suas diferenças e possam rever sua condição artística e importância no meio musical, no qual, para uma banda que “quebra barreiras” e nasceu para ser grande, vaidades não podem ter espaço. Para os fãs, a esperança é a última que morre.
Tags desse texto: Rock Press, Sepultura