Fazendo História

Come back to hell!!!

Depois de toda da reviravolta que o thrash metal sofreu pelos quatro cantos do globo, muitas misturas e repetição de fórmula, o Slayer volta à tona com “Diabolus In Musica”, com toda a agressividade e o peso típicos da banda. Publicado na edição número 11 da Roadie Crew, de setembro de 1998.

slayerQuando, em 96, o Slayer lançou “Undisputed Attitude”, um álbum só de covers de punk rock americano, e com as bandas mais sujas do estilo, deu para sentir que Tom Araya e cia estavam, não dando um passo atrás, mas subindo em muro para assimilar o que estava acontecendo no mundo do metal. A decadência do thrash metal, estilo que o Slayer ajudou a criar, levou várias bandas a buscar caminhos nem sempre fiéis aos propósitos que fizeram uma legião de fãs por todo o planeta. O Metallica, principal ícone, foi também a principal decepção; o Megadeth manteve o peso, mas se repetiu demais; o nosso Sepultura chegou ao topo com uma inusitada mistura de ritmos brasileiros, mas não agüentou a barra; e a nova geração do metal, de Prong, Helmet e Korn não era bem aquilo que se esperava. “Undisputed” Attitude”, ainda que representasse uma espécie de “compasso de espera”, acabou sendo um tapa na cara na geração “punk de boutique”, representada por bandas como o Green Day.

A resposta a essa provisória saída de cena vem agora com “Diabolus In Musica”, que acaba de ser lançado (no Brasil pela Sony Music) e traz um Slayer curto e grosso, voltando a falar de histórias demoníacas, e agressivo como nos velhos tempos. Para comentar essa nova porrada, a Roadie Crew falou com o guitarrista Kerry King, por telefone, direto da cidade de Columbia, nos Estados Unidos, no intervalo da mini tour que banda fazia com o Clutch e o System of a Down, no início de junho.

De cara, o próprio título do álbum já denuncia um certo parentesco com o Mal, mas a explicação surpreende: “Diabolus In Musica” é uma referência ao “tritono”, que na música é um intervalo de quinta diminuta. Era uma escala evitada pelos músicos sacros, e proibida de ser executada pela Igreja, por ser considerada “demoníaca”. Mais tarde foi uma escala utilizada pelo Black Sabbath, na introdução de “Black Sabbath”. Mas Kerry King descarta a semelhança e minimiza: “‘Diabolus In Musica’ é realmente um termo técnico, combina bem com a música pesada. É diabólico, arriscado… de acordo com as poucas aulas de música que tive. Na verdade esse nome apareceu em um songbook nosso editado no Japão, em um parágrafo que fala sobre a música ‘The Anti-Christ’”.

Mas “Diabolus In Musica” não foi o primeiro nome escolhido pela banda para este álbum. Como já acontecera em outros lançamentos, vários outros títulos foram escolhidos e substituídos, o que chega a caracterizar uma estratégia de marketing. “A princípio divulgamos que o nome seria “Violence By Design”, mas qualquer banda que faz som pesado pode colocar um nome que fale sobre violência. Depois resolvemos procurar um título melhor, e um jornalista me perguntou sobre “Stain Of Mind”, que é uma das músicas, e eu achei legal também. Mas no final preferimos “Diabolus In Musica”, porque parece um nome bastante diferente”, explica King.

Kerry King está do jeito que gosta. Não corresponde à fama de mau que tem, e assume a sua maturidade sem medo do sinal dos tempos: “eu preferi cortar o cabelo, pois é melhor você ter a cabaça raspada do que ser careca”, confessa ele, sobre seus ralos fios, e para a surpresa dos fãs mais ortodoxos. Também, honra seja feita, não há motivos para reclamação. Em meio à turnê já iniciada, e com a maioria dos shows com ingressos esgotados, inclusive nas apresentações que o Slayer fará na Ozzfest, junto com Pantera e Soulfly, entre outros, Kerry está a vontade para comentar sua discreta participação nas novas composições da banda: “Musicalmente falando, Jeff fez cerca de noventa por cento do álbum, quase tudo. Depois nós, Tom e Paul desenvolvemos as músicas e fomos fazendo os arranjos”, explica ele, completando que se trata de uma questão de inspiração: “Jeff estava mais inspirado, e começou a fazer muitas músicas, ele já tinha uma oito prontas, antes que eu soubesse. No álbum anterior, eu fiz a maioria das músicas, é só uma questão da fase de cada um”.

Mas na hora de compor as letras, ainda mais em um álbum em que a banda volta a tocar em assuntos mais “delicados”, e depois do próprio Slayer, na época do lançamento de “Seasons In The Abyss”, assumir publicamente ter evitado os temas satânicos, Kerry divide a responsabilidade: “De uma forma geral, durante todo esse tempo, Jeff normalmente escreveu sobre guerras, Tom tem escrito sobre serial killers e esse tipo de coisa e eu prefiro fantasias, horror, tragédias ou mesmo política, como fiz na música “Dittohead”. Todos esses temas estão nesse álbum de novo. As letras são sobre os assuntos de sempre, mesmo que eu e Jeff tenhamos feito a maioria delas nesse álbum”, acrescenta. E realmente Kerry King tem razão, por mais diferente que se possa esperar o que esteja em “Diabolus In Musica”, o Slayer é o mesmo de sempre. Os (apenas) 43 minutos de duração podem a princípio ser considerado pouco para uma banda renomada como o Slayer, mas a intensidade de “Diabolus…”, e a boa produção, acabam por provar que nem sempre quantidade é sinônimo de qualidade.

Empolgado, Kerry King faz comentários sobre as sua músicas preferidas em “Diabolus In Musica”: “‘Biter Peace’ é uma música que eu gosto muito, ela fala sobre guerras de uma maneira que ainda não tínhamos feito; “Perversions Of Pain” bem que se encaixaria em um filme tipo “Hellraiser”; e “In the Name of God” é uma das que eu mais gosto, é minha contribuição para o undeground diabólico”. Na verdade a única que fala abertamente sobre temas satânicos. Uma quase novidade em “Diabolus…” é o retorno do indócil Paul Bostaph, que havia decidido não tocar mais heavy metal, mas acabou voltando atrás, como explica Kerry King: “quando Paul saiu da banda, ele estava interessado em fazer outras coisas fora do metal, mas quando começou a tocar outros estilos, ele se sentia só um acompanhante de outros músicos. Isso o fez voltar atrás, e como ele saiu numa boa, pode voltar numa boa também”.

Uma das coisas que surpreendeu os fãs do Slayer de longa data foi o fato da banda ter participado da trilha sonora do filme de animação “Spawn”. A trilha traz várias bandas da música pesada tocando em parceria com outras da cena techno, como Korn e os Dust Brothers e Henry Hollins e Goldie, por exemplo. O Slayer fez o duo com a banda alemã Atari Teenage Riot (que há pouco tempo passou pelo Brasil), mas Kerry King entrega: “O que aconteceu foi que o nosso manager me apresentou um disco do Atari Teenage Riot, e teve a idéia de fazermos algo juntos. Eu definitivamente não tenho nenhum CD de techno na minha casa, mas ouvi o CD do Atari e descobri que eles são uma espécie de Slayer do techno, e aí achei que seria um trabalho curioso. Mas o tecnho e a música pesada que fazemos não tem nada a ver”. E Kerry afirma isso com muita propriedade, afinal, qual outra banda consegue ser, por tanto tempo tão agressiva e fiel ao seu estilo e aos seus fãs? “É que nós todos somos muito fãs desse estilo de música, e se eu não estivesse em uma banda, o Slayer seria exatamente o tipo de banda que eu iria ser fã”, finaliza um convicto Kerry King.

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