O Homem Baile

Pitty encerra TIM Rock Hour e mostra como fazer

Lasciva Lula, Luxúria e Mutreta também se apresentaram na última noite do projeto, que aconteceu ontem, no Circo Voador. Ao todo 27 bandas tocaram durante o verão.

Esta nova e turbinada edição do Festival Rock Hour prometeu e cumpriu. Desde meados de dezembro o evento mostrou, a cada segunda, numa boate de zona sul, três novas bandas do rock nacional. E ontem, no Circo Voador, numa espécie de festa de encerramento, tocaram Pitty e três bandas “selecionadas” entre a 27 que tocaram durante todo o evento: Lasciva Lula, Luxúria e Mutreta. O suficiente para agitar a noite de sexta no Rio, quando a cidade vive um clima Rolling Stones sem precedentes.

O interessante de ver essas bandas de formação mais recente é que, cada uma à sua maneira, já tem um certo público formado. Foi assim como o Lasciva Lula, que mesmo sendo a encarregada de abrir os trabalhos, já reunia uns bons seguidores à frente do palco. Com esse apoio, o grupo segurou bem a onda e teve até gente com algumas músicas cantadas na ponta da língua. “Olívia Lik” e “Casal de Velhos”, por exemplo, já são hits deles. A banda também se mostrou segura no palco, com destaque para o vocalista/guitarrista Felipe Schuery e sua firme postura de frontman. O grupo prometeu o lançamento do primeiro álbum ainda nesse primeiro semestre. Tomara que saia logo.

Curiosa é a trajetória do Luxúria. A banda vem do interior de São Paulo, foi revelada no Porão do Rock, em Brasília, e se estabeleceu no Rio. Aqui, tem tocado em tudo o que é canto, inclusive na rádio, e tem até fã clube. Olhando para o Luxúria tocando, no palco, percebe-se logo o porquê. A banda está absolutamente pronta pra ser o grande destaque do rock nacional nas próximas temporadas. Tem músicas ganchudas e extremamente cativantes. Uma vocalista que, além de uma boa voz e o completo domínio dela, tem uma presença de palco impressionante. Sem apelações pelo fato de ser mulher, Meg Stock é soberba, não pára um minuto sequer, vive e sente cada passagem das músicas. E como são boas. “Ódio”, a mais cantada, por ser a da rádio, embora excelente, não chega nem a ser a melhor. “Dura Feito Aço”, a ótima “Contrariada” e “Imperecível” dividem o posto. Meg deixa os demais na banda em segundo plano, mas é difícil não se intrigar com riffs de guitarra dos mais bem sacados, e ainda com a performance calavar do baterista Guilherme Cersosimo. Em suma: um showzaço.

O encontro do Mutreta com o Circo Voador parece uma coisa mais que apropriada. A banda faz um som que tem a cara do local (como se o Circo não fosse multifacetado), ou seja, aquele “rock antigo”, como diz o vocalista Fred Entringer, cheio de solos e viagens que colocam a todo num interessante túnel do tempo. Como as bandas que o sucederam, o Mutreta tem também o seu quinhão de público, e se aproveitou da boa qualidade do som para mandar solos e evoluções das mais legais. A banda já prepara o segundo disco, e tem mostrado novas músicas nos shows. Ontem se destacaram duas, entre elas “Mister”, dotada de um senhor riff, a que mais promete, ainda mais quando for tocada mais vezes.

Quando o palco para a banda da Pitty começa a ser montado, tudo muda. Equipamentos próprios, toalhas e mais toalhas, água e mais água, e um pano de fundo exuberante, que mal cabe no palco mostram a diferença. Ela veio do underground, onde estão as bandas que tocaram no Rock Hour, mais cresceu e hoje é grande, vende discos a rodo, etc. Tudo isso se quebra, entretanto, quando a cantora surge no meio da fumaça, com uma simplicidade ímpar, realçada por um shortinho jeans desfiado que lhe cai muito melhor que outros figurinos de menininha outrora usados. Se no começo Pitty claudicava pela falta de um repertório maior, hoje, após o segundo disco, consegue costurar um cardápio capaz de segurar a sedenta platéia por cerca de uma hora e meia sem nenhum problema.

O cansaço das músicas do primeiro disco, tocadas à exaustão por muito tempo, as transformou em canções renovadas, com um riff diferente aqui, um solo a mais acolá, um andamento menos acelerado, e assim por diante. “Máscara”, por exemplo, ganha, no meio, uma cover-não-sei-de-quem que quando Pitty volta para a música original parece que já está a repeti-la. Outros hits como “Teto de Vidro”, se mantém quase fiel e sacode o Circo, que já vinha no embalo da pesadona “Anacrônico”. E é com peso que um show da Pitty se sustenta. Até nas tais baladas, salvo raras exceções, o bicho pega. É o que acontece com “Ignorin’u” (com a própria Pitty numa segunda guitarra), e “Na Sua Estante”, por exemplo, e é também do disco novo que outras músicas se destacam, como a ótima “Brinquedo Torto”. Não entraram na brincadeira “Aahhh…!” e “No Escuro”, mas aí talvez faltasse voz.

A banda da Pitty já teve algumas mudanças, mas parece estar numa excepcional fase. Duda continua impiedoso com seus tambores e pratos, Joe segura a onda no baixo e Martin, o guitarrista que caiu do céu, se encaixou perfeitamente no grupo. No final, uma jam instrumental realçou bem isso. Mas jam session “de verdade”, para Pitty, foi o cover para “Sailin’On”, do Bad Brains, que ela levou com a participação de Canibal, que tocava com seu Devotos logo ali no Garage. “De verdade”, aliás, é a expressão que bem define um show da Pitty, alguém que saiu do underground para o estrelato, mas aparenta, com tudo que isso representa, ser a boa menina de sempre, fiel aos seus princípios. Afinal, que artista chama, no meio de uma multidão, os fãs pelo nome? Pitty, assim, dá aula de rock e de atitude, de uma vez só. Bom para os mais novos se ligarem.

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