Fazendo História

Vilipêndio
15 Abismos

Independente. Resenha do disco de estréia da banda Vilipêndio, publicada na Rock Press 41, de janeiro de 2002.

Se o meio é ou não a mensagem, nunca saberemos. Mas a ansiedade e a angústia que aflora dos abismos do Vilipêndio não podem ser em vão. A rigor, trata-se de música pesada, punk rock, grunge, hardcore com pitadas de metal, do mais sujo metal, ou tudo isso junto. A música, a essa altura, é uma coisa inexplicável. E é bom que se registre, aqui ela é só um pretexto para a expressão do desespero intrínseco às letras. Sim, a mensagem é o meio.

As letras fogem positivamente de qualquer lugar comum, são nervosas e têm uma leitura à beira de um suicídio. Num misto de realidade e deboche, a interpretação do vocalista e guitarrista Ricardo Caulfield é única, e, cheia de referências, desabrocha como nova, inserida num universo de final de mundo apoteótico. Nova, sim, pois poucos ousariam almejar “ser assassinado”, como ele faz em “De Olhos Bem Abertos”, que abre o disco. Até um tema batido, como a repressão policial, é tratado com extrema propriedade em “Eu Defendo a Lei”. Outro, acerca das relações humanas, em “Quem Vive de Juras”, tem enfoque diferenciado.

E é assim, fugindo do lugar comum com a naturalidade dos grandes artistas que Ricardo e o Vilipêndio tratam da nossa abjeta realidade. Dois exemplos que, se não abreviam a temática impactante desse CD, não deixam de ser um belo cartão de visitas para os quase quarenta minutos de pânico e desespero tão sublimemente registrados em forma de música. Sejam bem vindos então (e boa sorte), à decadência dos grandes cidades do recém nascido século XXI!

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