O Homem Baile

O dia em que o Humaitá Pra Peixe virou laboratório

Experimentalismo foi a marca da noite de ontem; enquanto sobravam músicos no Binário, faltou música no Artificial. Fotos: Divulgação/Joca Vidal.

Numa das noites mais peculiares do festival, o Humaitá Pra Peixe acabou se transformando num grande tubo de ensaio. Binário e Artificial fizeram aquilo que não se vê por aí, nem na mais alternativa das casas de shows. Uma coisa que só poderia acontecer ali mesmo, num lugar reservado para novos artistas.

Binário: muita informação e pouco rumo

Binário: muita informação e pouco rumo

Segundo consta, o Binário não é uma banda, no sentido convencional da coisa, mas um coletivo. Na Física, binário é um sistema de duas forças de módulo idêntico aplicadas a um corpo, mas com sentidos opostos, e o efeito prático desse sistema, grosso modo, é que o corpo gira, gira e não sai do lugar. Nome perfeito para a banda, ops, coletivo. Os sete integrantes fazem de tudo um pouco. Além das três guitarras, baixo, duas baterias e dos operadores de áudio, volta e meia um deles investe num sopro qualquer ou faz um barulhinho. Isso sem falar nos excelentes vídeos temáticos. É tanta informação que quem vê (escuta) não sabe bem o que fazer, e o show acaba sobrevivendo de altos e baixos. Nos melhores momentos as duas baterias furiosas dialogam e a veia instrumental da banda surpreende pela “pegada” e pela força instrumental – é inegável a técnica dos músicos. Nos piores, o público tem que conviver com um cantor fraquíssimo declamando letras idem. E isso sem falar num discurso débil que nada acrescentou. Nessas horas, as imagens é que salvam, transformando o morador de rua Mauro rabiscador em astro. Quando o vídeo chama mais a atenção que a banda… No fim das contas, a sensação que fica é que tem gente demais no palco, idéias demais, arte demais, a ponto de faltar um rumo. Nada, entretanto que uns bons ensaios e umas cervejas não resolvam.

Uma típica discoteca no show do Artificial

Uma típica discoteca no show do Artificial

Ninguém pode dizer que Kassin não avisou. Ele é praticamente formado em Humaitá Pra Peixe, tocou no mínimo nas últimas quatro edições, e tem o crédito da curadoria do festival para fazer o que quiser. Ao lado de Berna Ceppas, antes de a coisa toda começar, ele agradeceu a oportunidade de fazer um show “mais bizarro”. Foi assim que o músico e produtor definiu, de antemão, a sua apresentação, cuja grande ausência foram os instrumentos, e conseqüentemente, a música. Trabalhando com um lap top e outros equipamentos, a dupla começou com ruídos em som altíssimo, mas logo descambou para um baticum dos diabos. Era a típica discoteca de Dancin’Days. Como um escriturário de repartição que digita o que o chefe dita, Berna se limitava a detonar sons que vinham de dentro do HD, enquanto Kassin falava/cantava através de um microfone que distorcia e afinava a sua voz. Em suma, pareciam dois DJs, órfãos de discos e pick ups. Ao final de cada música, palmas de auditório eram soltas sobre a platéia, que não sabia se ria ou tentava entrar naquele bizarro clima de discoteca. Bizarro, Kassin tinha razão. Não digam que ele não avisou.

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