No Mundo do Rock

A nova cartada de Érika Martins

Ex-vocalista da Penélope está com disco solo no forno; repertório tem sido testado em shows pelo Brasil. Fotos: Divulgação e Marcos Bragatto (ao vivo).

Os Telecats: Carla Kieling, Bjørn Hovland e Érika Martins. Márcio Ribeiro ficou de fora dessa foto

Os Telecats: Carla Kieling, Bjørn Hovland e Érika Martins. Márcio Ribeiro ficou de fora dessa foto

Durante uns nove anos ela foi vocalista da Penélope, e era comum vê-la sobre o palco com vestidinhos, trancinhas e outros mimos, dando pulinhos pra lá e pra cá. Com a banda que lhe projetou Érika Martins gravou dois álbuns, “Mi Casa Sua Casa” (1999) e “Buganvília” (2001). Revelada no Abril Pro Rock de 1997, a Penélope Charmosa foi contratada pela Sony Music e enquanto existiu dançou conforme a música: mudou de nome, passou a cantar em português para atingir o público das rádios, gravou um disco de covers e assim por diante. O resultado? Vários hits radiofônicos, sempre identificados pela voz suave de Érika. Tanto que, o último álbum da banda, “Rock Meu Amor”, de 2003, mais parece um disco de intérprete de Érika, o que evidenciava que a carreira solo não tardaria a ser iniciada.

A Penélope bateu as botas em 2004, e de lá para cá muita coisa também foi mudando para Érika. Sua companheira de banda, Constança Scofield, virou mamãe e se tornou herdeira de um dois maiores produtores de disco do país – Tom Capone, falecido num acidente de moto em 2004, em Los Angeles. Ela própria se casou com Gabriel Thomaz, o chefão do Autoramas, e o tempo veio para fortificar novas idéias. Só sua bela e inconfundível voz continua a mesma.

Foi no estúdio de Tom, o Toca do Bandido, que ela começou gravando as primeiras músicas daquilo que viria a ser sua carreira solo, com os Telecats. O grupo é formado pelo guitarrista Bjørn Hovland, da banda carioca de surf music Go!, a baixista gaúcha Carla Kieling, e o baterista Márcio Ribeiro, do Rivets. Antes mesmo de concluir a gravação do disco, Érika partiu para o palco, onde tem testado a banda e o novo repertório. A julgar pela receptividade dos shows da cantora no Ruído Festival do ano passado, e do Loud! Festival, em 2004, por parte de público e crítica, Érika está no caminho certo. Mais madura, ela deixou de lado as meninices da Penélope para investir num rock mais pesado, mas ao mesmo tempo pop e cativante em doses certas. E, claro, sem perder o charme jamais.

Esse material novo já está pronto para ser lançado no primeiro álbum da garota, na estréia do selo Toca Discos. Duas das músicas que estão nele foram enviadas ao Rock em Geral. Se depender de “Me Provocar” e “Sacarina”, é só uma questão de tempo para ela voltar a ocupar espaço na mídia. “Sacarina”, inclusive, já está disponível para download no site da MTV. Confira agora a entrevista que fizemos com a cantora, via e-mail:

Rock em Geral: Quando você decidiu partir para uma carreira solo?

Érika Martins: Aconteceu com o final da Penélope. Eu estava cansada, foram nove anos de banda, e queria compor coisas um pouco diferentes, fugir do clima pueril da banda. Além disso, a Constança engravidou, iria passar um longo tempo afastada e eu não me imaginava na Penélope sem ela, que era o outro alicerce. Eu sabia que iria continuar tocando, é a coisa que mais amo fazer, daí o Tom Capone deu várias idéias e se interessou em montar um projeto comigo e com a Constança, tendo ele como o guitarrista virtual. Então comecei a compor coisas novas e chegamos a gravar uma música, que ele produziu e tocou baixo, chamada “Me Provocar”. Foi o início de tudo. Depois virou Érika Martins & Telecats, uma cantora e uma banda incrível, como “Renato & Seus Blue Caps”, “Josie And The Pussie Cats”…

RG: O fato de hoje existir uma artista como a Pitty fazendo sucesso facilita as coisas para uma mulher solo fazendo rock? De outro lado, ela se beneficia de um espaço que a Penélope ajudou a abrir?

Érika: No Brasil nunca foi novidade mulher fazer rock. Muita gente não sabe, mas o primeiro rock gravado no Brasil foi por uma mulher, em 1955, chamada Nora Ney. Depois dela vieram muitas: Celly Campello, Sônia Delfino, Lílian, Wanderléa e todas da jovem guarda, Rita Lee, as meninas do Sempre Livre, Vange Leonel, Paula Toller, Fernanda Takai, a Penélope… São tantas que nem dá pra citar. Então, na verdade, sempre teve lugar para mulher no rock. Concordo que em Salvador, no auge do axé, quando surgiu a Penélope, não tinha espaço para o rock (feito por mulher ou por homem), mas conseguimos chamar a atenção para o rock baiano em geral, que estava fechado desde o Camisa de Vênus, que havia sido a última banda baiana de rock a assinar um contrato com uma major. Era até engraçado, porque nas entrevistas a maioria das pessoas achava que a gente era do Sul ou de Minas e tínhamos que explicar que existia uma cena de rock na Bahia.

RG: Quando e como você montou sua banda?

Érika: Assim que a Penélope terminou eu comecei a compor e a pensar no projeto. Precisava de um guitarrista de verdade, que tivesse um estilo próprio, e aí veio o Bjørn, do Go!. A baixista é uma gaúcha, super do rock, Carla Kieling, e o baterista é o Márcio Ribeiro, que tocava na Rivets.

RG: O que você pode falar sobre o disco de estréia?

Érika: Foi gravado na Toca do Bandido e produzido pelo Miranda (Carlos Eduardo Miranda, que já produziu Raimundos), pela Constança e co-produzido pelo Tomás Baptista. Tá com uma sonoridade crua e isso foi uma coisa que o Miranda viu logo de cara, ele simplificou tudo, o que fez com que soasse cada nota de cada instrumento. A Constança fez a parte minimalista, destrinchou cada centímetro do disco e se mostrou uma produtora incrível, isso eu já sabia desde a época da Penélope. As timbragens também foram super pensadas e testadas.

Érika e Bjørn no Loud! Festival, no final de 2004

Érika e Bjørn no Loud! Festival, no final de 2004

RG: Já existe alguma gravadora interessada em lançar esse disco? Tem previsão de lançamento, título, etc?

Érika: O disco vai sair pelo selo da Toca do Bandido, “Toca Discos”. Ainda estamos definindo se vai ter outro parceiro.

RG: “Sacarina” e “Me Provocar” já estão liberadas para tocar em rádio ou disponíveis na Internet? São as futuras músicas de trabalho?

Érika: “Sacarina” é o single e já está tocando em algumas rádios. Agora vamos filmar o clipe e disponibilizá-la na internet. “Me Provocar” foi a primeira a ser gravada e foi produzida pelo Tom. Também foi a minha primeira composição depois que a Penélope acabou.

RG: Além do fato de ser uma outra banda, que diferenças você vê no repertório novo para aquele da época da Penélope? Há algo daquela época nesse repertório?

Érika: Tá muito mais maduro e as composições são mais chicletudas, com mais refrões. O som tá mais simples e, assim como o nome, bem anos 60. O pesado é pesado mesmo e as baladas são grandes canções. Tem três músicas do final da Penélope, que nunca tinham sido gravadas e que estão no disco. Uma delas é “Música de Amor”, uma parceria minha com o Gabriel, que foi gravada no último disco do Autoramas.

RG: A julgar pelo repertório dos shows, o trabalho como um todo parece bem mais maduro do que o que você fazia com a Penélope. Isso é claro para você, fazer algo bem diferente de antes?

Érika: No início eu me preocupei com isso e tentei compor com novos parceiros, para que soasse bem diferente. Depois eu relaxei mais e vi que o inteligente a fazer era deixar o novo coexistir com o melhor da Penélope.

RG: De outro lado, “Me Provocar” é “bem Penélope”. Ela é daquela época?

Érika: Ela foi a primeira composição desse novo projeto. Acho que todas sempre vão ter um pouco da Penélope, é a minha voz, a minha forma de compor…

RG: Como tem sido a receptividade por parte do público dos shows a esse novo trabalho?

Érika: Estamos fazendo muitos shows, principalmente no interior de São Paulo e Minas Gerais. Logo vamos pro Sul e chegaremos ao Nordeste e Norte. Está sendo incrível, já tem muita gente cantando “Sacarina” e recebendo extremamente bem as outras novas. A banda tá super divertida também, com muito frescor.

RG: Você deve estar compondo junto com o Gabriel também. Desse repertório, quantas são assinadas por vocês dois?

Érika: A primeira foi “Música de Amor”, ele me entregou a gravação dela depois de um show da Penélope, pediu para eu colocar a letra e ela deu início a série: “Aprenda a Imitar a Gretchen”, “Me Provocar”, “Você Tem Muito o Que Aprender Sobre as Mulheres” e muitas outras. Nós temos uma forma bem diferente de compor, o Gabriel é mais pé no chão e mais realista, e eu sempre fui mais passional e filosófica.

RG: Afinal, o que determinou o fim da Penélope? Quando foi isso?

Érika: Acho que tem um ano e meio que a banda acabou. O mais importante é que precisou de uma dose de coragem, eu poderia ter ficado acomodada num nome que já existia e era bem sucedido, mas nunca me sentiria bem numa situação assim. Sou muito apaixonada pelo que faço, só consigo tocar assim e não me imagino fazendo diferente. Já tive propostas que me dariam mais grana, mas eu não estaria fazendo da minha forma, então é óbvio que nunca aceitaria.

RG: Além do seu trabalho solo você está envolvida com outras atividades artísticas? Você já trabalhou como apresentadora de TV, fazendo entrevistas, etc…

Érika: Adoro fazer isso também, já fiz bastante coisa e recebi alguns convites para trabalhar, mas que não eram interessantes. Se pintar algum legal e que eu possa conciliar, é claro que vou topar. Fiz teatro durante muitos anos e penso em voltar a fazer alguma coisa…. Vamos ver!

Érika no Loud! Festival

Érika no Loud! Festival

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