O Homem Baile

TIM Festival: Elvis Costello faz show devastador

No fechamento de uma das melhores edições do festival, cantor britânico faz um balanço de sua trajetória. Fotos: Divulgação.

Elvis Costello

Elvis Costello

Numa das edições mais agraciadas com bons shows, a noite de encerramento do TIM Festival não deixou nada a desejar. As mesas e cadeiras espalhadas pela tenda do palco principal sugeriam um espetáculo comportado e uma platéia idem, mas nada como o bom o velho rock’n’roll pra desfazer padrões e surpreender a todos. Foi assim que Elvis Costello iniciou o show, e antes o primeiro solo da pungente “Uncomplicated”, todo o público já lotava o gargarejo num típico frenesi adolescente, muito embora o estofo de quem estava ali fosse compatível como o do próprio Costello.

Mesmo com origem nos ideários punks e com carreira sólida o suficiente para não deixar dúvidas, o nome de Elvis Costello não trazia conforto para o público; teve gente que até suspeitou que, maduro, ele traria no repertório mais experiência e menos vigor. Pois a apresentação não deu fôlego para qualquer tipo de especulação: uma música foi tocada atrás da outra, sem intervalo para a platéia respirar. Até a sétima, oitava música, a simples e eficientíssima banda ganhou o público com rocks bem articulados e até cantados em coro, como em “End of The World”. Com um terninho mal arrumado sobre camisa rosa e gravata frouxa, sapatos prateados e inseparáveis óculos escuros, Elvis Costello quase deu uma aula de rock - só não o fez porque a platéia, definitivamente, era de iniciados.

Elvis Costello

Elvis Costello

Mesmo em baladas como a razoável “Country Darkness” e a surpreendente “She” (aquela bregaça de Charles Aznavour) no início do bis, o ideólogo do punk jamais deixou de ter o público nas mãos. O som da guitarra de Costello soa diferente, e não é só o timbre e/ou afinação. O instrumento parece ser talhado para o jeito dele tocar, e o resultado é dos mais interessantes. Soma-se a isso a refinada colaboração do tecladista Steve Nieve, cuja grande virtude é a sutileza, e, musicalmente, o estrago estava feito. O resto – a pegada, as músicas e a atitude rock, Elvis Costello trazia no bolso.

Como o repertório é imenso, muitas músicas se fundiram a outras. A clássica e manjada por aqui “Every Day I Read The Book”, por exemplo, ficou quase irreconhecível, entremeada a “Red Shoes”; não fosse o refrão marcante, passaria batida. E o interessante é que, embora seja um show, esteticamente falando, de rock, Costello passeia por várias suítes da música pop, que vão desde o soul até o reggae, passando por punk, country e pelo rock nos anos 50. Até a clássica “Suspicious Minds”, eternizada por um outro Elvis, aparece como citação a certa altura.

O bis, com seis músicas, começou com a tal “She”, passou por evoluções estonteantes de teremim, feita pelo tecladista, e culminou com “I Want You”, uma baladaça arrasa-quarteirão de emocionar até o mais insensível dos seres humanos. Um hora e meia depois de ter entrado em cena, Elvis Costello deixa o púbico com a certeza de que todos ali tinham acabado de passar por uma experiência rara.

TELEVISION MOSTRA A VIRTUOSE DA NEW WAVE

Na abertura, o renascido Television resolveu mostrar o porquê de eles serem, dentro da new wave made in New York, considerados sofisticados. Numa turma que tinha ninguém menos que Ramones, Talking Heads e Blondie, o quarteto liderado por Tom Verlaine era a própria virtuose. Com a formação clássica, que gravou historio álbum “Marquee Moon”, o grupo foi fundo nas bem sacadas harmonias e nos sutis (porém eficientes) duelos entre os dois guitarristas.

Television

Television

A grande química entre Verlaine e Richard Lloyd, o outro guitarrista, parece que ficou preservada em todos esses anos. Uma nota de um lado desencadeava a resposta do outro, e uma nova viagem começava. Os duelos entre as guitarras (presentes em quase todas as músicas) remetiam a grupos clássicos como Wishbone Ash e até o sulista Allman Brothers. A diferença é que no Television as guitarras estão nuas, desprovidas de qualquer distorção, e a sonoridade, por conseqüência, é única.

Em “Prove It”, por exemplo, Verlaine já abre solando, a as investidas solo/silêncio estendem a música por mais e dez minutos, mas a platéia, entretida, nem percebe. Assim também é o show, cuja exata uma hora de duração passa numa velocidade atroz. No final, uma dobradinha sui generis: o cover para “Knokning On Heaven’s Door”, clássico de Bob Dylan, e a esperadíssima “Marquee Moon”, convertida numa extraordinária versão com mais de doze minutos de duração. Um show histórico e que serviu para recuperar o fio da meada do rock.

MORCHEEBA FAZ FESTA DE ENCERRAMENTO NO LAB

Com todos derrubados no TIM Stage, restou a fechamento no Lab com o Morcheeba. Antes, o duo Kings of Convenience se aborreceu com uma platéia falante demais, e chegou a pedir silêncio mais de uma vez, já que o set deles era essencialmente acústico. O que a público queria mesmo era o suíngue rock do Morcheeba.

Morcheeba

Morcheeba

O grupo inglês está completando dez anos, e além de apresentar Jody Sternberg, a nova vocalista, que é australiana, mostrou que está tentando se adaptar ao mundo normal, deixando de lado o beco sem saída da eletrônica. Tanto que já conta com um baterista fixo, e o DJ virou, sorte, mero coadjuvante. Sobra para Ross Godfrey, guitarrista e fundador da banda, garantir o entretenimento. E ele faz bonito, com solos de guitarra, slide guitar e até tocando com os dentes, à Hendrix. Escoltado pelo brother Paul, no baixo, que cuida do suíngue da banda, ele literalmente deita e rola. Jody, vestida como uma indiana, faz bem a função de “substituta”, e ainda á umas cacetadas com flauta e saxofone. Um show que soou como verdadeira festa de encerramento do TIM Festival 2005.

Segundo a produção do festival, cerca de 31 mil pessoas estiveram no evento, incluindo o público do Tim Village – área de circulação externa aos palcos onde acontecem pequenos shows. Nos três dias de festival, fora consumidos 20 mil litros de cerveja, 5 de refrigerante e 3 de água.

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