Rock é Rock Mesmo

Lobão sai como grande vencedor do Prêmio Claro

No Prêmio Claro, as vitórias de Cachorro Grande, Rogério Skylab, da revista outracoisa e do próprio Lobão como personalidade, atestam o sucesso das diversas empreitadas independentes capitaneadas pelo músico. Publicado originalmente na Dynamite on line.

Meus amigos, o que é o rock’n’roll. Quem se liga no programa do agente Jack Bauer está por fora do que é 24 horas. Escrevi estas linhas depois de retornar de São Paulo, onde aconteceu a Cerimônia da Premiação do Prêmio Claro de Música Independente. Eu e mais um ônibus lotado, com gente que foi tocar, foi entregar prêmio, foi concorrer a prêmios, foi ver o rock de perto e de verdade. Gente que saiu daqui às 10 da manhã de ontem, e que desembarcou, no mesmo lugar, às 10 da manhã de hoje. Diretão. Bate e volta. 24 horas rock é isso aí.

Analisar o resultado de um prêmio como este, para mim, é sempre um exercício estatístico, considerando que, no meio independente, verba para pesquisa é algo inconcebível. Mais ainda, uma forma de se ter uma leitura do que está acontecendo no mercado da música independente nacional. Seja ele bom ou uma lição do que precisa ser feito, ajustado ou corrigido. Por exemplo. Ontem, olhando para o resultado divulgado, a primeira coisa que se nota é a supremacia do Angra na categoria melhor álbum de heavy metal, que conquistou o maior número de votos entre os concorrentes de todas as categorias, 2286. O fato chega a ser surpreendente, já que a banda quase viu fim há pouquíssimo tempo. É bom lembrar que o Sepultura não concorreu (porque nada lançou em 2004) e que o Krisiun ficou em segundo lugar, com 1494 votos, mais que muito vencedor de outras categorias.

O segundo lugar em número absoluto de votos foi o Cachorro Grande, na categoria melhor álbum de rock, com 1843, dando início a hegemonia desta edição, que consagrou a revista outracoisa como melhor veículo impresso, seu idealizador, Lobão, como Personalidade, e Rogério Skylab, como melhor álbum de mpb, além do próprio Cachorro Grande. A iniciativa de Lobão, ainda antes de completar dois anos, premiou dois álbuns de bandas independentes, como já havia acontecido com BNegão no ano anterior. A outracoisa derrubou a veterana Rock Brigade, por uma diferença de 0,37 pontos percentuais, ou seja, uns 25 votos. Lobão foi, sem dúvida, o grande vencedor desta edição.

Vencer, de outro lado, já virou rotina para dois dos indicados neste ano. Primeiro, o Hangar 110, escolhido pela quarta vez consecutiva como a melhor casa de shows alternativos. Neste ano, passou apertado pelo Circo Voador, do Rio, reinaugurado em julho do ano passado, e que, até pela tradição, ameaçou a casa paulistana, ficando em segundo lugar por uma diferença de menos de um ponto percentual. Já o Abril Pro Rock, que levou o tricampeonato na categoria melhor evento, quase foi alcançado pelo BMU, festival exclusivo de bandas de heavy metal, e pelo Curitiba Pop Festival (que trouxe o Pixies no ano passado), em terceiro.

A Deckdisc, embora não tenha vencido como melhor selo – amargou um quarto lugar, atrás da Monstro, da Orbeat e da Trama, outra tricampeã – levou fácil dois troféus, com Black Alien, na categoria melhor álbum de rap/hip hop/black music, com quase dez pontos percentuais de vantagem, e com o Dead Fish, na melhor álbum de punk/hardcore, ameaçado pelos gaúchos Replicantes e Tequila Baby. E ainda viu um recém contratado, o Cachorro Grande, levar o de melhor álbum de rock, com a maior votação em valores absolutos, como já disse no começo. Além do Dead Fish, o estado do Espírito Santo ainda levou o prêmio na categoria álbum de música eletrônica, com o Zémaria.

No quesito “surpresas”, não pra não citar o Dazaranha, de Santa Catarina, na categoria álbum pop, e do Rock Rocket na revelação. Não pela banda em sim, que, a bem da verdade, é hypeada até demais da conta, mas porque a cidade de São Paulo jamais venceu nessa categoria. Já que passamos pelo sul, não podemos deixa de citar o bom desempenho da Ipanema FM, vencedora na categoria rádio ou emissora, e do fofinho Wonkavision, que faturou na recém inaugurada categoria melhor álbum de indie rock, com uma folga de sete pontos percentuais. E também, repito, da Orbeat, terceiro lugar como selo. E Minas Gerais não ficou de fora, já que o Alto-Falante, da Rede Minas, levou o prêmio como melhor programa de TV ou emissora, depois de ficar como vice por três anos. O Programa honrou solitariamente a capital mineira, que já foi bem representada, em outras edições, pela Rádio Favela e pelo Bar Dançante A Obra.

Surpresa mesmo foi o Whiplash, na categoria site, coluna, blog ou fanzine on line, que desbancou a favoritíssima Trama Virtual, morada de dez entre dez bandas atualmente. E a maior barbada de todas foi o hiper super cool hypeadão Franz Ferdinand, como álbum internacional, lançado por gravadora independente brasileira. Por fim, vale destacar a categoria álbum de música instrumental, vencido pela dupla de guitarristas Sidney Carvalho e Alex Matinho, que batalham no meio há muito tempo.

O destaque negativo da premiação vai, sem sombra de dúvidas, para a Monstro Discos. Além de ter amargado um modesto segundo lugar, com metade dos votos do vencedor – a já citada Trama – e, mesmo com um número recorde de artistas contratados, os oito indicados nada levaram. Isso sem falar nas categorias personalidade e evento, que também ficaram a ver navios. Fica a lição para um trabalho mais enfático da próxima vez.

Nota: os resultados do Prêmio Claro podem ser checados no site: www.premioclaro.com.br

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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