Rock é Rock Mesmo

Parar ou não parar: eis a questão

Exemplos de altos e baixos é que não faltam no mundo do rock. Discos formidáveis sucedem fracassos fenomenais. Mas como saber, antes, se uma banda conseguirá voltar a fazer bons discos? Como saber a hora de parar? Publicado originalmente no Dynamite on line.

Meus amigos, começar às vezes pode ser mais fácil que terminar. Uma banda de rock, por exemplo. Existe coisa mais fácil que se montar uma hoje em dia? Daqui mesmo da minha cadeira eu posso fazer vários contatos através de sites, e-mails ou mesmo do orkut e encontrar companheiros ideais para integrar uma banda imaginária. O Detonautas, aliás, nasceu assim. O nome vem da junção das palavras “detonar” com “internauta”. Se menos moderno, com dois eu três telefonemas convoco uns três ou quatro músicos e já marcamos até o primeiro ensaio. Se bobear, até na reunião de condomínio aqui do deficitário edifício eu consigo captar gente para montar uma banda. Pense bem. O que tem de banda de rock tocando por aí não está no gibi. Ainda bem.

Mas, dizia eu, o problema não é começar uma banda, mas acabar com ela. Fosse eu uma espécie de PVC do rock, e diria que, todos os dias, nascem 745 bandas e meia, e outras 879 decretam falência. Já disse e repito: bandas vão e vêm, começam e terminam; só o rock continua. Isso porque, mesmo com todos os vícios do mercado (e às vezes até por causa deles), nada supera a vocação do rock para o novo. E está na renovação o segredo da longevidade. Digo isso não como uma opinião, mas como constatação. Não sei porque nem como (já queimei muito a mufla pensando no assunto), mas é o que acontece. E, se é bom, não me sinto desafiado a saber o porquê. Como dizia Mick Jagger (ou seria Pete Townshend?), o que pode fazer um adolescente desocupado, senão montar uma banda de rock?

(O amigo que acompanha este espaço virtual há um certo tempo deve se lembrar de quando abordei este mesmo tema numa outra coluna, justamente quando o Suede decidiu dar um tempo. Como o assunto tem me deixado encafifado, e o objetivo aqui é pensar o rock, decidi voltar a ele). É comum na mídia musical alguém dizer, de vez em quando, que certas bandas são ruins porque não acabam, e que, outras, já foram tarde. Quem escreve esse tipo de coisa acaba destilando um certo incômodo de cunho pessoal com determinado artista. É fato, entretanto, que nenhum artista consegue ser criativo e fazer grandes discos o tempo inteiro. Exemplos de altos e baixos é que não faltam no mundo do rock e da música pop. Discos formidáveis sucedem fracassos fenomenais. Mas como saber, antes, se uma banda conseguirá voltar a fazer bons discos? Como saber a hora de encerrar uma carreira?

Exemplo podem ajudar. O Metallica. A banda, enquanto banda mesmo, já acabou há muito tempo. Quem viu o filme/documentário “Some Kind Of Monster” pode constatar que todos os esforços foram feitos para que o negócio (não a banda) não parasse. Até um psicólogo foi contratado a peso de ouro. A banda deveria acabar, podem pensar os mais afoitos. Mas o fato é que, daquele imbróglio saiu um bom disco, o tal “St. Anger”. Longe, é claro, dos bons tempos do thrash oitentista, mas quem garante que se todos estivessem numa boa, teríamos um disco melhor? Quem garante que, depois desse polêmico “St. Anger”, o Metallica não vai reaparecer com um discaço? Nesse meio, não há garantias. Exceto quando se aposta na repetição. Disse isso e já retifico: nem nesse caso, pois até a mais perversa repetição tem sua data de validade garantida.

O Charlie Brown Jr. Do nada – bem, talvez até com um certo histórico – todo mundo decidiu sair da banda e deixar o vocalista e encrenqueiro Chorão sozinho. Sem brigas, sem disputa pelo nome, nada disso. Saíram e pronto. Mas o show não pode parar, e, num instantinho, novos músicos foram contratados para, ao menos, cumprir a agenda e garantir o leite das crianças. O CBJ é sucesso nacional, e, amem ou odeiem, é a banda de rock que se comunica com um público, atualmente, como nenhuma outra faz. E que soube trilhar seu caminho. Merece, portanto, e no mínimo, respeito. Quando os compromissos terminarem, Chorão vai ter que definir se a banda acaba ou não. Tudo indica que esta é a hora certa, mas como saber se é mesmo hora de parar? O disco mais recente não mostra o mínimo sinal de cansaço; ao contrário, é a síntese do CBJ.

Se olharmos para trás, os exemplos confundem mais que esclarecem. Quem diria que o disco “Perfect Strangers”, lançado pelo Deep Purple quando a banda retornou com a formação clássica, já em 84, seria um dos melhores deles em todos os tempos? E que o seguinte, “The House Of Blue Light”, seria um fiasco imbatível? Quem poderia imaginar que o Aerosmith, depois de ter se afundado em drogas, fosse ressurgir em 86, numa regravação “rap” de “Walk This Way”, e a partir de então se tornaria ícone de vendas em todo o mundo, através da exibição maciça de videoclipes feitos com as maiores baladas da história? E nem vou falar no retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith ao Iron Maiden, no espetacular “Brave New World”. Quem, depois desses exemplos, aconselharia ao cansado Ozzy Osbourne a parar?

Sim, meus amigos, assim como o futebol, o rock também é uma caixinha de surpresas. Quando menos se espera, um artista considerado morto e acabado retorna fazendo um barulho dos diabos. E outros, dos quais se espera grandes trabalhos, vêm com fracassos retumbantes. Mas, acabada a partida, o negócio é se concentrar para o próximo jogo, onde tudo pode mudar. Ao menos até chegar a hora de parar. Essa, então, ninguém sabe mesmo quando e como será.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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