Rock é Rock Mesmo

Festival de bandas novas escapa das tradicionais panelas

O festival de bandas novas encabeçado pelo Placebo selecionou bandas realmente novas, e não sucumbiu à campanha maciça e gratuita feita por jornalistas do tipo “amigo de banda”. Publicado originalmente no Dynamite on line.

Meus amigos, o mundo dá voltas. Ao menos é o que diz a letra de uma das músicas do CPM 22. Telefonia antes era um serviço prestado pelo Estado à população, e hoje é um grande negócio. Tanto que sobra dinheiro para fazer um monte de coisas, como encher o nosso saco com comerciais na TV o tempo todo: ligue isso ligue aquilo, parece até que estamos passando pelas bancadas de promoção da Rua da Alfândega. É só ligar na Globo na hora do Jornal Nacional (segundo consta, o horário mais caro da TV brasileira) e lá estão as telefônicas nos atordoando. Eu, entretanto, em geral, não quero ligar pra ninguém. Mas tem o lado bom. Muitas vezes aproveitando as leis de incentivo à produção cultural, que, dizem os especialistas, são as mais generosas do mundo, essas empresas têm gasto boa parte da grana que sobra (e não é pouca coisa, não) em eventos “culturais”. Isto é, ao invés de pagar impostos, usam a mesma grana para promover a cultura nacional. Grosso modo, é mais ou menos isso.

Eu, vou lhes ser franco, não gosto dessas empresas. Administram mal, atendem mal, poucas vezes são punidas pelas famigeradas agências reguladoras e ganham dinheiro pacas em cima de um patrimônio construído com o dinheiro (este sim) do trabalho do brasileiro. Observem que, com a quebra dos monopólios e a festa das privatizações feitas no governo FHC, nenhuma empresa construiu nada no País. Elas apenas compraram e modernizaram (é verdade) patrimônios construídos por todos nós. Ou alguém viu alguma nova empresa de mineração como a Vale do Rio Doce ser fundada? Ou uma outra, no ramo petroquímico, como a Petrobrás? Ou, ainda uma gigante das telecomunicações como a Embratel?

Mas o que eu quero salientar é esse lado bom (vamos dizer assim) dessas empresas, que, nos últimos tempos, têm bancado eventos culturais. A TIM, que pegou a vaga da Souza Cruz, que, por lei, não pode mais patrocinar esses eventos, a Vivo, e, com mais intensidade recentemente, a Claro, que açambarcou, entre outros, o Prêmio Dynamite e parte do Abril Pro Rock, transformando o maior festival independente do Brasil, ao menos em um dos três dias, numa perna do “Claro Que é Rock”, evento do tipo “show de calouros” que pretende promover novas bandas.

E é aí que eu queria chegar, nos quarenta selecionados que irão tocar no Claro Que é Rock. Antes, entretanto, devo consignar que não gosto de eventos do tipo “show de calouros”, em que bandas se amontoam e são julgadas e escolhidas vencedoras. E explico. Usando exemplos, para facilitar. Alguém se lembra quais os artistas venceram o Skol Rock e o Fest Valda, os dois exemplos mais recentes? E os “Escalada do rock”, que selecionava bandas novas para tocar no Rock In Rio, em 1991 e 2001? Voltando um pouco aos festivais da Globo dos anos 80, os vencedores conseguiram consolidar uma carreira de razoável sucesso? Os mais antigos poderão citar a “era dos festivais da Record”, no final dos anos 60, mas esse é um fato que representa exceção por se tratar de uma época das mais prolíficas pra a música brasileira (onde os festivais eram só um detalhe) e que foi amputada pela ditadura militar. Outra coisa que incomoda, e é natural, é o fã da banda internacional que encabeça as seletivas (o Placebo) ser obrigado a ver uma série de outras bandas, para depois, enfim, realizar o sonho de ver a sua preferida. Não que eu seja contra bandas de abertura, ao contrário, acho um expediente necessário até, mas a abertura não pode passar de duas bandas, e elas devem ser afins à atração principal. Senão acontece a chuva de vaias (como no caso em que o Nenhum de Nós abriu para o Sisters Of Mercy, em 92) ou o público da banda principal só chega na hora “h”.

A essa altura o leitor já deve estar me achando um chato de galochas. Ou, por outra, uma espécie de José Fernandes ou José Ramos Tinhorão adaptados para o rock. Mas eu explico. Agora é que, depois de tantos poréns, vou chegar onde desejava desde o dia em que recebi a relação dos selecionados para as eliminatórias do festival (www.dynamite.com.br/2003a/lernews.cfm?cd_noticia=12168), na última segunda-feira. É que, diferentemente de outros eventos similares, ao que parece, houve um certo critério para a seleção das bandas, e este não atendeu a nenhuma panelinha de amigos ou conhecidos. Ao mesmo tempo, também não sucumbiu à campanha maciça e gratuita feita por jornalistas do tipo “amigo de banda”. E antes que alguém suspeite que a lista tenha caído no gosto deste colunista por afeição a este ou aquele nome, devo admitir, que eu próprio desconheço mais da metade dos nomes ali relacionados. Ou seja, em linhas gerais, atendeu ao critério mor de selecionar bandas novas. Evidentemente, alguns nomes são praticamente unanimidades até em nível nacional, como Pullovers, Carbona, Bois de Gerião, Pipodélica e Bugs, entre outros. E promessas eu mesmo posso indicar: Mop Top, Los Canos, The Violentures e Válvula. O mais importante é que, me corrijam se eu estiver errado, todos vamos ver bandas realmente novas e fora de panelas.

É bom lembrar que o vencedor de cada uma dessas etapas vai faturar R$ 15 mil em equipamentos, e que, quem ganhar a finalíssima, que acontece no Rio e em São Paulo, em setembro, leva uma van para fazer turnê, ganha dois videoclipes e vai gravar um disco, de graça, na Toca do Bandido, o ótimo estúdio idealizado e montado por Tom Capone, que, aliás, foi quem iniciou toda essa história. O que não garante, entretanto, a consolidação do grupo no mercado, a menos que, até lá, uma gravadora se interesse pelo projeto. Será?

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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