Rock é Rock Mesmo

Jack Black ensina a todos como ser feliz com o rock

Se você quer mesmo rock, nem abra esta coluna. Largue tudo e vá direto assistir “Escola de Rock”. No filme, o ator Jack Black se supera e mostra como é possível se dar bem na vida com o bom e velho rock’n’roll. Publicado originalmente no Dynamite on line.

Quem vive na cidade do Rio de Janeiro teve no último final de semana um verdadeiro sábado de almanaque. A volta do Carnaval de rua, em contraponto ao espetáculo tipo exportação da Marquês de Sapucaí, o Fla-Flu que decidiu a Taça Guanabara e que teve o Flamengo, um clube de massa, como vencedor, garantiram a mais perfeita tradução do espírito do carioca. Mas, alto lá! O que este espaço virtual dedicado ao rock tem a ver com isso? Nada, meus amigos, nadica de nada. O incauto fã de rock habitante da Cidade Maravilhosa ou se mandou para o interior do Estado (como fica linda e agradável a cidade vazia) ou se trancafiou em casa com discos, fitas e similares para evitar a superexposição carnavalesca nas telas até nos canais por assinatura.

Um deles, entretanto, dentro de uma confortável sala freqüentada por cinéfilos de plantão, em pleno domingo de Carnaval, praticava sua indelével oratória:

- Pais! Aproveitem este exemplo, deixem seus filhos ouvir e tocar rock, não só para o bem deles, mas para o bem de toda a humanidade!

Era o término da sessão do filme “Escola de Rock”, que por ser uma comédia de censura livre e ter vários atores mirins, atraiu um bom número de crianças, devidamente acompanhadas de seus pais, o público alvo do rocker que se arriscava a defender, como fazia o personagem principal do filme, o seu “rock way of life”.

A história do filme é simples: um músico e devoto do rock é chutado de sua banda, ao mesmo tempo em que precisa pagar a parte que lhe cabe do aluguel do apartamento que divide com um amigo, ex-músico e agora submisso a uma namorada mandona e a um emprego do tipo “normal”. Sob pressão, ele acaba atendendo um telefonema que convoca seu amigo para dar aula numa escola conservadora como professor substituto. Ele vai no lugar do amigo só para conseguir a grana, mas logo descobre um potencial em seus alunos para o rock, e faz de tudo para montar uma banda com eles e participar de um festival. Suas aulas se transformam em aulas de rock, que vão desde ensaios com instrumentos até teoria e história do rock, passando por postura e “atitude” rock.

O primeiro ponto a destacar, até para acalmar os mais desconfiados (como eu, por exemplo) é que o filme é absolutamente rock, ou seja, só toca rock e só se fala de bandas de rock. Este fato deveria ser óbvio para um filme como este, mas o nome “rock”, rentável que só ele, já foi usado tantas vezes para designar discos, filmes artistas e milhares de produtos do mundo capitalista, que não seria novidade para este colunista se o filme nada tivesse a ver com o rock em si. E nada de bandinhas ditas “de vanguarda” ou “inovadoras” (o White Stripes só é citado numa fala, quando debocham do fato de Meg White não saber tocar). É só rock, no sentido único que a palavra deveria ter: The Who, Deep Purple, Black Sabbath, Cream, Ramones, Rush, Rolling Stones, Sex Pistols, etc.

Depois é que o diretor Richard Linklater (de filmes como a excelente animação “Walking Life”) flagra com precisão os preconceitos e estereótipos sofridos por quem gosta de rock, e a forma que eles estão intimamente incutidos na sociedade, de modo que até crianças os carregam, sem qualquer razão em especial. Uma vez exposta a ferida, elas descobrem, junto com seus pais (tão tolos e bobões como os da vida real), que alguém que gosta de rock como o falso professor é um ser humano normal, cheio de dúvidas e cometendo erros como qualquer outro que se trancafiou por anos a fio dentro de uma escola. Linklater mostra também como a mídia imbeciliza o público com música descartável a tal ponto de as crianças, quando perguntadas se conhecem algo de rock, respondem com nomes como Christina Aguilera e Puff Daddy.

O diretor, enfim, mostra que ou é “do ramo”, ou trabalhou, no roteiro e na direção em si, com alguém que é. Mas o filme não seria nada não fosse a impagável e superadequada interpretação de Jack Black, no papel do rocker decadente e falso professor. Para quem não se lembra, ele era o Barry, o indigesto sabe tudo de música de “Alta Fidelidade” (outro filme indispensável para quem gosta de rock), e andou estrelando comédias como “O Amor é Cego”, ao lado de Gwyneth Paltrow. Mas em “Escola de Rock” ele se supera, e, tal qual Barry, parece ser realmente aquilo que representa. Não é exagero afirmar que a partir deste seu trabalho, ele já se credencia como favorito para interpretar o filme que está sendo preparado para contar a história de Ozzy Osbourne (o “pai” de todos) no cinema, mesmo competindo com o bonitão Brad Pitt (preferido da máquina de fazer dinheiro Sharon Osbourne) e com o irlandês Colin Farrel (”Demolidor”).

Mas talvez a maior das lições tenha ficado para o final do filme, quando a banda ensaia a música “It’s a Long Way To The Top If You Wanna Rock’n'roll”, do AC/DC, cujo título já diz tudo. Se você se identifica com rock e quer ter também um “rock way of life”, tente fazer dele a sua forma de vida, não opte por carreiras ditas “normais” que você será sempre um infeliz. Mais saiba que o caminho é longo e é preciso persistir, contra a lógica, contra tudo e contra todos. Era mais ou menos isso que o velho rocker tentava transmitir, com os olhos molhados, no final daquela sessão de cinema num domingo de Carnaval.

Até a próxima, e long live rock’n'roll!!!

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