Rock é Rock Mesmo

Nunca é tarde para conhecer uma boa banda de rock

Vitimadas pela falta de divulgação da mídia e do mercado, algumas bandas, mesmo com grande sucesso no exterior, ficam ocultas no Brasil. Não se prive de ir atrás delas e comece, antes tarde do que nunca, com o finlandês HIM. Publicado originalmente no Dynamite on line.

Às vezes no Brasil nossas queridas gravadoras lançam artistas internacionais sem dar a devida atenção ou mesmo fazer a necessária divulgação, de modo que o fã de rock mais afoito acaba não descobrindo ou sabendo se a tal banda existe, a não ser por mero acaso. Foi o que aconteceu comigo na semana passada, quando comprei um disco usado de uma amiga, “Razorblade Romance” da banda finlandesa HIM (sigla para “His Infernal Majesty”).

Na verdade, eu já conhecia a banda (a rigor duas músicas) e tive meu primeiro contato com ela, curiosamente, não no Brasil, mas quanto estava na Alemanha, em 2001, para cobrir o Wacken Open Air, hoje o maior festival de heavy metal, na acepção do termo, em todo o mundo. Não que o HIM fizesse parte da escalação de um dos palcos do festival, mas a toda hora que eu ligava uma TV num quarto de hotel, ou passava por lojas onde tivesse um aparelho ligado, estava lá a banda, com clipe para “Pretending”. Banda em termos, já que praticamente só o vocalista Valo aparecia. Era a época do lançamento do single do terceiro disco, “Deep Shadows And Brilliant Highlights”, e, acreditem, percorri várias lojas e ele já estava esgotado. Segundo os balconistas germânicos, tudo do HIM estava esgotado, já que o grupo estava liderando as paradas. Tal fenômeno acontecia também em outros países da Europa, fazendo do HIM o grupo finlandês mais vendido em todos os tempos.

De volta ao Brasil, depois de vasculhar as prateleiras nos paises pelos quais passei, também não tive sucesso nas lojas brasileiras. Mesmo sabendo que a BMG havia lançado “Razorblade Romance” no Brasil, nenhuma loja tinha a bolacha, e, como era de se esperar, ninguém na gravadora tinha noção do que se tratava. Tal fato me fez lembrar, quando, no auge do pós-punk, em plenos anos 80, era dificílimo achar um disco do Big Country, uma das melhores bandas da época, mas sempre subestimada e “desaparecida” das lojas e da mídia, de uma forma geral. Até com o neoprogressivo Marillion, mesmo maciçamente divulgado pela Fluminense FM, no auge se sua popularidade, era difícil de ser encontrado, no comércio e na mídia.

Mas que diabos é HIM, devem estar perguntado quem lê essa coluna. O grupo fez exatamente o gothic metal de bandas como a conterrânea Sentenced, só que com um sotaque mais rock e pop, vindo diretamente dos anos 80, onde o Sisters Of Mercy é a principal referência. O grupo costuma se autodenominar “love metal”, termo que a princípio soa ridículo, mas, no fundo no fundo, tem muito a ver. Tudo gira em torno da figura do vocalista Valo, que também compõe todas as músicas, uma figura andrógina e sensível que remete ao grande Brett Anderson, do Suede (dê uma olhada na capa lá em cima). Valo está nas capas de quase todos os álbuns e singles da banda. Ao todo, o HIM já lançou quatro discos: “Gratest Love Songs Vol. 666″ (1997), “Razorblade Romance” (2000), “Deep Shadows And Brilliant Highlights” (2002) e “Love Metal” (2003). Juntos, ele já venderam mais de 2 milhões de cópias em todo o mundo. Além de Valo, atualmente fazem parte da banda Linde (guitarra), Migé (baixo), Gas (bateria) e Burton (teclados), todos assim mesmo, sem sobrenome, que eles devem ter limado para facilitar as coisas, afinal não é muito fácil pronunciar nomes como Kotipelto (Stratovarius) e Laihiala (Sentenced), por exemplo. Atualmente o HIM está em turnê pela Europa junto Ozzy Osboune e sua caravana metálica.

Aqui cabe mostrar uma entre várias contradições da crônica heavy metal brasileira. Tal qual um purgatório medieval, os editores das publicações especializadas no gênero condenam determinadas bandas à exclusão, por não serem “metal” o bastante. Nem vou falar do nu-metal, sub gênero (no melhor dos sentidos) que definitivamente fica à margem de suas pautas, mas de bandas que fazem música pesada e não entram nesses veículos, enquanto outras, notadamente pop e sem qualquer identificação com o metal, encontram guarida em suas seções. O exemplo clássico é o do Bon Jovi, que há muitos anos já não faz o hard rock que lhe deu projeção, mas continua tendo espaço, com se tivesse um inexplicável direito adquirido. No caso do Him, a falha chega a ser gritante, já que dezenas de outras bandas como o Sentenced, Mandragora Scream, Paradise Lost e Moonspell, só para ficar com poucos exemplos que pertencem ao mesmo rol, têm amplo espaço, com resenhas e matérias a rodo.

Voltado a “Razorblade Romance”, álbum que demorei três anos para descobrir, não dá para se negar a experiência emocionante que ele dispara a cada audição. O clima é todo soturno (o que me faz lembrar que a Finlândia é o país recordista em suicídios em todo o mundo), mas cada música apresenta melodias altamente conquistadoras, tudo realçado pela carismática interpretação (note, ele não canta, interpreta) de Valo. Citar de novo Brett Anderson e Sisters Of Mercy é fundamental, mas não se pode deixar de lado o peso e a distorção brandos das guitarras, que garantem climas realmente cativantes. Músicas como “Your Sweet 666″, “Poison Girl” e “Wicked Game”, essa última de galã Chris Isaak, que já rolou em algumas rádios, são realmente arrebatadoras. Outras também legais são “Bury Me Deep Inside Your Heart”, na qual Valo, inconsolável, se desaba em prantos, “Razorblade Kiss” e “Death Is In Love With Us”.

Então caro leitor, ao passar por uma dessas lojas de discos que você costuma ir, e ver um disco com uma figura gótica e andrógina na capa, não hesite, leve o Him para casa. É parada certa.

Até a próxima, e long live rock’n'roll!!!

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